domingo, 1 de julho de 2007

Ensino Superior (será mesmo?)

Interessante trabalho da Academia Brasileira de Ciências relata grandes problemas do ensino superior brasileiro. Com a mudança de enfoque – o sistema de cotas – praticamente ninguém discute a qualidade do ensino, sua formatação e o investimento do Estado.

Apenas para exemplificar, o Pobre Pampa separou alguns dos itens marcados pela ABC, embora recomende a leitura de todo o trabalho, pois vale a pena.

A EDUCAÇÃO SUPERIOR NÃO SE RESTRINGE AO ENSINO UNIVERSITÁRIO – A ABC recomenda que cursos profissionalizantes, com duração de até dois anos, sejam também incluídos na discussão;

RECURSOS DO ORÇAMENTO – Segundo a ABC, o Brasil investe apenas 4% do PIB na educação, enquanto outros países atingem 6%, sendo 21% deste, destinado ao ensino superior, (Nota do PP: outros autores alegam que mais de 70% do orçamento público federal fica com as universidades, que congregam um universo de somente 2% do público estudante).

A DISTRIBUIÇÃO DE MATRÍCULAS POR ÁREA DE CONHECIMENTO PRECISA SER CORRIGIDA - Este é um tópico muito interessante, pois demonstra que não há um real interesse no desenvolvimento do País e da sociedade brasileira como um todo, mas apenas a criação de cursos superiores: 69% das matrículas em instituições de ensino superior no Brasil situam-se em ciências humanas e sociais, apenas 13% em ciências da saúde, 11% em engenharias e ciências tecnológicas, 4% em ciências exatas, 2% em ciências agrárias, e 1% em outras áreas. Não que cursos em ciências humanas não sejam necessários, mas é óbvio que proliferam por precisarem de menor investimento para sua implantação.

A INCLUSÃO SOCIAL E A DIVERSIDADE DEVEM SER INCENTIVADAS SEM PREJUÍZO DA QUALIDADE. A melhor maneira de favorecer a inclusão social por meio de iniciativas ao alcance de instituições de educação superior é o incentivo a cursos noturnos e a atividades de reforço da educação em nível médio para comunidades carentes, a diversificação de instituições públicas de educação superior e a intensificação da formação de professores para o ensino público fundamental e médio. Deve-se considerar também que, sem um reforço substancial do ensino público de nível médio, não será possível atingir o objetivo de expansão com qualidade da educação superior no Brasil.

CONCLUSÕES DO POBRE PAMPA

A quantidade de universidades e cursos não é garantia de desenvolvimento. Isto, já aprendemos aqui na Metade Sul. Das cinco universidades federais do RS, quatro estão na Metade Sul, o que não têm garantido o desenvolvimento local. Ao mesmo tempo, Pelotas conta com um ensino secundário municipal de qualidade superior à media estadual. Para se ter uma idéia, o número de professores municipais pelotenses é superior, em número absoluto, ao de Porto Alegre.

Ao incentivar a criação do sistema de cotas, o Governo Federal desvia a atenção dos problemas que a educação enfrenta no Brasil. Agora, garantindo a presença de alunos oriundos do ensino médio público nas universidades federais, parece não ser mais necessária nenhuma melhoria no ensino médio.

O Pobre Pampa é contra as cotas de qualquer tipo. O Pobre Pampa é contra o ensino gratuito nas universidades públicas ou particulares. A sociedade brasileira não pode arcar com estes custos. Como, então, facilitar o acesso dos pobres e, ao mesmo tempo, conseguir recursos importantes para a sociedade?

Simples! Cada aluno, ao se formar em uma universidade pública, fica devedor da sociedade. Pagará os custos de sua formação de duas maneiras possíveis: Ou sustenta outro aluno de igual curso e igual duração, pagando mensalmente o valor estabelecido deste custo ou presta serviços à comunidade – dentro da especialidade cursada – em função remunerada e temporária. Com isto, estará feita a justiça social: os ricos pagarão para estudar ou prestarão serviços comunitários (mais provavelmente, iriam para as universidades particulares). Os pobres e os da classe média poderão ter a oportunidade de ter seus estudos custeados pela sociedade, ao mesmo tempo em que darão uma importante contribuição à mesma. Quem tem filhos egressos de faculdades, sabe que não basta um diploma para entrar no mercado de trabalho. Com este sistema, o aluno terá um início de carreira garantido pelo Estado, o que é tão ou mais importante que o diploma.

Aliás, o ensino superior está tendo um desproporcional foco na discussão sobre a educação brasileira (lembrem-se: 2% do público estudante, 75% do orçamento). E os governos estão criando barreiras para as carreiras tradicionalmente de ensino médio, retirando, desta maneira, a possibilidade dos menos favorecidos economicamente, de entrar no serviço público! Concursos que não necessitavam curso superior, já o estão exigindo! QUALQUER curso superior! Qual a intenção?

Imagem: Albert Einstein em um momento de descontração. Ao entrar nos EUA como imigrante, precisou fazer constar a raça no documento. Sua resposta: human race...

3 comentários:

nedelande disse...

Muito importante este tópico que levantastes. Agora há pouco nós vimos a Universidade de São Paulo ser ocupada pelos estudantes com o apoio disfarçado da reitoria. Tirando fora as reinvidicações de disfarce o problema fundamental é que o governador Serra quer uma coisa aparentemente óbvia e simples. Como e onde está sendo gasto o dinheiro do estado, ou melhor o nosso dinheiro. Eu até há pouco não havia entendido o porque desta reação. Um dia destes conversando com um amigo, administrador de uma universidade, ele me falou que alguns cursos ditos sociais, dão prejuizo para a universidade. Como o pessoal é muito criativo existem inúmeros cursos nestas áreas, com mais professores do que alunos. Então o que acontece? Os cursos tradicionais, como medicina, odontologia, veterinária, que são lucrativos, tem ainda que bancar os cursos sociais deficitários. Ou seja, o pessoal que paga o seu curso de odontologia, por exemplo, está pagando alguém para fazer um cursinho de cinema. Sou contra isto? Talvez não. Mas acho que é necessário saber quanto custa isto para a sociedade. Mas eles, com razão, tem medo que isto seja aberto. Nas universidades privadas, por questões de sobrevivência, isto vai acabar acontecendo. Mas na pública.. bom já sabes como é que é.

1 de Julho de 2007 07:28

Anônimo disse...

Olá
Muito boa a proposta sobre a universidade pública ser "paga". Quanto ao preconceito, por uma questão de cultura e pessoas que não estão dispostas a mudar, creio que já faz e sempre fará parte do nosso cotidiano, mas acho que o governo poderia intervir pelas vítimas do preconceito e amenizar as coisas, como por exemplo acabarem com as cotas e proporcionarem uma ensino médio de qualidade, como você falou, por que não investir em alunos que dependem das cotas? O grande problema, é que o ser humano é irracional, em todos os aspectos, mudando um pouco de assunto, qual animal que polui o ar que precisa para sobreviver? Eu lhe respondo, o irracional, o homem. As bases para se formar um bom cidadão estão abaladas, pois nossos políticos estão muito ocupados roubando uns dos outros, roubando do povo. Políticos honestos são uma raça extinta á muito tempo(aliás, se é que existiram). E acho que jornalistas sérios talvez sejam os mais próximos de fazer algo, de intervir pelo povo, afinal, Carlos Lacerda (jornalista) não conseguiu acabar com a vida política de Vargas?! Sim, conseguiu. A mídia tem muito poder hoje em dia. E quando me tornar jornalista, não pretendo me limitar a fazer pequenos artigos pára qualquer jornalzinho, quero fazer mais, quero poder ser reconhecida por ter feito algo que valeu a pena, algo que ajudou o povo. Então, boa sorte para mim! Hehe. Bjo. Muito interessante seu blog, serei uma leitora assídua.

PoPa disse...

Eu esqueci de fazer um registro no meu post. Não existe universidade gratuita no Brasil! Alguém paga esta estrutura paquidérmica, obviamente! E isso inclui os excluídos...

Taíse, te desejo toda a sorte do mundo. Vais precisar, pois a profissão de jornalista não é fácil! Quem quer ser combativo, acaba sendo processado pelos mandantes de plantão ou amordaçado pelo patrão. Parabéns pelo teu posicionamento. O Brasil precisa muito disso!