sábado, 30 de abril de 2011

Paloma Jorge Amado e um louco no aeroporto de Paris

Lá vai o PoPa com mais um corta-e-cola, de um texto originalmente postado no Facebook da própria autora e que foi replicado no Blog da Cláudia (http://claudiawas.blogspot.com/2011/04/odeio-prepotencia-por-paloma-jorge.html?spref=fb) e no Augusto Nunes. O político é o mesmo que está sendo "perseguido pela imprensa" e, respeitando o que Paloma soliticou à Cláudia, o PoPa também não vai dizer o nome da fera. Mas a identificação é bem fácil...

Odeio Prepotência

Paloma Jorge Amado*


Era 1998, estavamos em Paris, papai já bem doente participara da Feira do Livro de Paris e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saude se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o aviao da Varig (que saudades) para Salvador.

Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas. Empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais de 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um politico do Sul (nao lembro se na época era senador ou governador, já foi tantas vezes os dois, que fica dificil lembrar). A mulher parecia uma arvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (Calá, com sua graça, diria: o jegue da festa do Bonfim). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo. Me armei de paciência e respondi: Sim, senhora, eu sei. Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara, mas nao disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos. Eu só sorri. Terminei o check in e fui encontrar meus pais.

Pouco depois bateram à porta, era o casal querendo cumprimentar o escritor. Não mandei a putaquepariu, apesar de desejar fazê-lo, educadamente disse não. Hoje, quando vi na tv o Senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, eteceteraetal, fiquei muito retada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar este triste episódio pelo qual passei. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas deste episódio, meus pais nunca souberam de nada…

* Paloma Jorge Amado é psicóloga.
Define a sua preferência política desta forma. “Sou livre pensadora. Odeio tudo que é contra o povo, reacionário, retrógrado, preconceituoso. Se tivesse que escolher uma ala, escolheria a das Baianas.”

Brancos, tremei!

O IBGE afirma que o Brasil está menos branco. Baixou o número de pessoas que se declara branco no censo populacional. Agora os brancos, ainda maioria, abrangem 47% da população brasileira, enquanto os negros passaram de 6 para 7%.

A verdade é que o Brasil é mestiço, gostem ou não. Para saber a realidade além da pele - se é que isso é importante - o Brasil deveria fazer um exame de DNA em toda a população. Afinal, genética é algo muito interessante. Gente com pele escura pode ter mais ascendência européia que muita gente de pele clara. Um exemplo que já é clássico: Neguinho da Beija Flor tem 67% de sangue europeu... e daí? Muda alguma coisa?

O PoPa entende que um censo pode ter finalidades estatísticas interessantes e importantes. No entanto, acha que a cor da pele não é uma delas. Qual o objetivo de saber o que cada um se declara, em termos de cor da pele? Qual o resultado prático de uma pesquisa como esta? No Brasil miscigenado, podem existir brancos puros, em áreas de colonização européia que ficaram muito tempo isoladas, como algumas colônias alemãs e italianas no RS e SC. Mas estas colônias foram segregadas pelos outros brancos dominadores na época da colonização e, no sentido de preservação, isolaram-se. Algumas poucas abastadas famílias brasileiras podem ter permanecido como "puro branco", por preconceito, mas isso é absoluta e total minoria.

No lado contrário desta moeda, o PoPa acredita não existirem mais negros "puros", pois a realidade social encarregou-se de misturar genetica e afetivamente com outras "cores de pele" (o PoPa não admite a existência de "raças" humanas).

Encerrando, o PoPa tem convicção que a maior discriminação existente no Brasil, é quanto à condição social. Os pobres são discriminados quase em sua totalidade e a maior discriminação a eles, vem do próprio governo, que não lhes dá um ensino decente, não proporciona saúde decente, não provém aposentadorias decentes. Isto é segregação real, palpável, ignóbil. E independe da cor da pele para existir. As chamadas ações positivas apenas mascaram o problema real.

Acorda, classe média que pensa ser branca! Luta para que esta população pobre tenha acesso a ensino, saúde e segurança. Disto vai depender o futuro de todos os brasileiros. Dos teus filhos, inclusive e principalmente.

Por que o espanto com a volta ao partido?

O PoPa acha engraçado que tanta gente estranhe o fato de que "aquele do mensalão" esteja voltando para seu partido de origem. Qual o espanto? Ele é a essência deste partido, a mola mestra que deu a propulsão para que ele - o partido - tivesse o sucesso que tem.

O que mais espanta o PoPa é a fraqueza - para ficar em uma palavra socialmente aceita - da oposição em relação ao governo deste partido. Mais que espanta, impressiona!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sem terra, invasões e comidinha grátis

Este vídeo, o PoPa pegou no blog do Reinaldo Azevedo. Como alguns dos dez leitores do PoPa não acompanham este jornalista, ele resolveu colocar por aqui. Assistam mas contenham a indignação para as eleições...



O título está errado propositadamente. A comida não foi gratuita. Nós pagamos. Tu pagastes esta conta!

Oposição, que oposição?

Existem dois momentos de governo no Brasil. O que conta com a oposição sistemática, fria, calculista e isenta de qualquer tipo de apoio "para o bem do Brasil" e o governo atual que, além de não ter oposição em termos numéricos, o que sobra é de uma incompetência atroz!

Um partido que teve mais de 40 milhões de votos, está jogando tudo isso na lata do lixo da história. Cria-se outro que não é "nem de centro, nem de direita, nem de esquerda", mas que está preparado para prover o tal "apoio para o bem do Brasil" e tudo segue desta maneira. A lição de FHC, em seu artigo, está sendo bem usada pelos partidos da situação que, percebendo esta falha no atendimento de uma importante fração do eleitorado, já está se preparando para colocá-la em sua cesta.

O que dizer disso? Que o Brasil, infelizmente, está sem Políticos verdadeiros e está coalhado de políticos mesquinhos e egoístas. Sim, devem existir uma ou duas excessões...

Cuidado, Cpers!

Em suas leituras matinais, o PoPa leu na ZH que o Cpers e o PSOL manifestaram-se contra o pacotaço do governador gaúcho. Bem, na verdade, não contra o pacote mas apenas contra o que pisa no calo deles, que é o aumento da contribuição previdencial. O que estes calorosos amantes do funcionalismo não dizem, é que o desconto é irrisório perante os benefícios. Funcionário público aposenta-se com o valor do salário atualizado, ao contrário do trabalhador do setor privado que é arrasado quando se aposenta e, ano a ano, vai perdendo valor nesta aposentadoria.

O que estes valorosos defensores dos funcionários públicos não dizem, é que toda a sociedade paga pelo déficit deste sistema. Mas o PoPa concorda que esta não é uma coisa a ser resolvida por um projeto simples. O Estado precisa fazer um estudo autuarial sério para saber o que é preciso descontar dos funcionários para garantir a aposentadoria legal e necessária para cada um deles. E preparar recursos para resgatar o histórico déficit, pois os atuais funcionários não tem que pagar pelos erros do passado.

Uma coisa é certa. Para manter este tipo de aposentadoria privilegiada, existe um custo e este custo precisa ser suportado por um sistema transparente, que não onere a sociedade pagadora de impostos. Mas o Cpers que se cuide, pode ser e, muito provavelmente é,  um custo maior que o deste pacote...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pacotaço gaúcho

Nosso governador está preparando um pacote de medidas para ampliar a arrecadação do governo. É bom que isto seja feito, desde que os recursos sejam utilizados para o bem estar da população e para o financiamento do desenvolvimento. Uma parte da grana já está comprometida com a contratação - sem concurso - de centenas de companheiros que deverão levar adiante o trabalho duro de prospectar negócios e promover o futuro. Claro que seria impossível encontrar gente competente nas fileiras do serviço público!

Os professores começaram a chiar. Depois de um aumento pífio, aceito com aplauso pelo sindicato da categoria, o governador anuncia que vai aumentar o desconto da previdência. Dá (pouco) com uma mão e tira com a outra. Yeda iniciou seu governo tentando fazer algo parecido e não foi permitido. Mesmo assim, conseguiu fazer uma boa limpeza nas contas públicas. Desta vez, a Assembléia estará de joelhos, sem discutir?

A Gerente, quem diria, aderiu à privataria.

Mesmo o óbvio, às vezes, pode ser impactante. Quem diria que o governo do pt iria iniciar privatizações em serviços públicos? O PoPa nem leu as explicações para que a gerente tenha tomado a decisão de entregar à iniciativa privada, a ampliação dos aeroportos brasileiros. Era uma decisão óbvia para qualquer governante decente. Mas que é estranho, é. A Gerente, quem diria, aderiu à privataria...

A propósito, é sempre bom lembrar que gerentes não planejam, apenas executam o que outros planejaram. Mas isso não importa. Importa é saber que agora os aeroportos irão sair do papel. O que isto custará para a sociedade, só o tempo dira pois, como o próprio pt afirma(va), capitalistas sempre estão à espreita de surrupiar o bem público.

O "desencarnado" e a história do Brasil

Em suas leituras matinais, o PoPa andou lendo as últimas declarações de Lula sobre ser ex-presidente. Ele alega que está sendo muito difícil “desencarnar” do cargo. E segue falando sobre o atual governo, o que deveria fazer e o que está fazendo e pedindo aos companheiros que entendam a atual presidente e respeitem seus erros (!!). Claro que, depois de declarar estas coisas, acusou seu antecessor de não saber ser um ex-presidente e que ele, o cara, ensinaria como é que se comporta um ex-presidente.

Interessante isso. Faz o que diz que os outros fazem, acusa os outros de fazerem o que ele faz. É possível que, em algum lugar do futuro, esta figura seja estudada e desvendada. Mas, se isso acontecer, ficará entre acadêmicos e nada será conhecido do “povão”.

Aliás, o que se conhece dos ex-presidentes brasileiros? Não estudamos sequer a sequência dos mesmos, não sabemos sobre a história do Brasil. Aprendemos, em algumas páginas, o que foi a Inconfidência Mineira, em uma página, aprendemos o que aconteceu nos dez anos da Revolução Farroupilha. Sabemos da “abertura dos portos às nações amigas” e tantas outras baboseiras, mas não sabemos o que levou a estes fatos, o que aconteceu antes e depois. Quais as causas, quais as conseqüências. Nosso País tem história! Mas nós, o “povão” não a conhecemos!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Rui Biriva e Elton Saldanha - Castelhana (Galpão Crioulo 2007)

Rui Biriva faleceu aos 52 anos, ontem à noite. Esta é uma das músicas gaudérias preferidas do PoPa, de autoria do próprio Rui.

Classe média, essa desconhecida...

Em suas leituras matinais, o PoPa leu um artigo do J.Toledo, no Estadão, sobre a "síndrome da classe média" e começou a pensar sobre o assunto. Nestes últimos dias, sob a iniciativa de FHC, todos os partidos deram-se conta de que existe um manancial meio que perdido, no eleitorado brasileiro.

Mas eles estarão certos? Existirá, afinal, a tal classe média brasileira? O PoPa acredita que não, pelo menos não na forma que os partidos políticos acreditam que exista. A classe média brasileira é muito mais espalhada do que se pode pensar. Não há como querer quantificar e classificar o que seria a tal classe média, sem fazer uma análise muito mais profunda do que se está pretendendo. Na realidade, FHC parece estar mais próximo da verdade, pois ele não propugnou uma aproximação da "classe média", mas de uma classe específica de eleitores conservadores, existentes em todos os estratos sociais brasileiros. Estes eleitores são os que cansaram das bobagens feitas em nome do politicamente correto, em nome de uma democracia "participativa", de uma justiça "social". Esta classe conservadora não admite mais pagar pelos experimentos de um governo que privilegia a corrupção, que demonstra ineficiência em planejar orçamentos, em realizar obras de infraestrutura, em governar.

Esta classe conservadora ainda está a espera de um partido que seja seu representante no parlamento, que ouça seus silenciosos gritos de revolta e inconformismo, que pratique justiça, democracia e liberdade, sem sobrenomes. Que propugne o correto, não o politicamente correto!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Proteção de quem, mesmo?

Que o governo é um péssimo administrador, qualquer um sabe. Economistas costumavam dizer que o melhor negócio do mundo é petróleo bem administrado e o segundo melhor negócio do mundo, é petróleo mal administrado... Por que o Brasil ainda insiste em manter monopólios em algumas áreas que já deixaram de ser estratégicas e passaram a ser essenciais para o desenvolvimento? Entre elas, correios e refino de petróleo. Monopólios estatais que estão segurando o desenvolvimento do País pela ineficiência e pela corrupção. Não faltam provas destes eventos!

Existem inumeráveis outros exemplos de monopólios inexplicáveis em nosso mercado. Por exemplo, no Brasil, não é permitido a navios de bandeiras estrangeiras, fazerem a marinha de cabotagem. Ou seja, um navio não pode pegar carga em um porto brasileiro e deixar em outro porto brasileiro... isso só é permitido para navios brasileiros! E todos sabemos que os navios brasileiros não tem condições para isso, apesar de todos pagarem uma tal "taxa da marinha mercante", equivalente a 25% de todo o frete movimentado nos portos do Sul e Sudeste. Não é pouca grana! O que é feito dela? Este não é um exemplo de monopólio estatal, mas um exemplo de monopólio nacionalista burro, estúpido e que também tranca o desenvolvimento nacional, por impedir um melhor aproveitamento dos navios que circulam em nossa costa e, por consequência, baixando custos de distribuição, baixando o tal "Custo Brasil".

Outro exemplo? Empresas aéreas precisam ser de propriedade de brasileiros. A Azul é de um americano que, por uma destas coisas da vida, nasceu no Brasil...

Legislações protecionistas podem e devem existir em qualquer país, mas devem ser inteligentes e, ao mesmo tempo que protegem empresas nacionais, permitem o desenvolvimento de seu próprio país. Nós ainda vivemos no século XIX neste quesito. As ferrovias gaúchas tem uma bitola diferente do restante do País, para evitar invasões argentinas por trem...

Bancada da bala, imprensa do governo

Em suas leituras matinais, o PoPa leu, no UOL, que a "bancada da bala" era composta de 50% de gaúchos. Seguindo o raciocínio do redator da notícia, o PoPa ficou sabendo que a indústria de armas gaúcha deu alguma grana para a campanha destes parlamentares. Bem, no atual sistema político, é permitido angariar recursos de empresas e pessoas para a campanha política. Nada mais normal, portanto, que indústrias gaúchas financiem parlamentares gaúchos. No caso, gente que tem compromisso com o não desarmamento total da população. O PoPa não é financiado pela indústria bélica (de baixo calibre, por sinal) gaudéria, para dizer que é contra o desarmamento.

Estas são atitudes da imprensa governista, que dá nomes caricatos aos que defendem algo absolutamente natural, que é a defesa da própria vida! Imprensa que vendeu-se aos desmandos do governo, através de recursos não tão claros quanto os recebidos pelos parlamentares da tal "bancada da bala". Estes receberam, contabilizaram e tornaram públicos os recursos recebidos, não se tratando, portanto, de "recursos não contabilizados". Aqueles, venderam-se por publicidade oficial...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nestes caminhos do Pampa, não se pede passaporte a um paisano de tua estampa!

Como bom crítico, o PoPa foi buscar a informação sobre o tal projeto aprovado na AL do RS. Aquele deputado que demonstrou uma grande necessidade de cuidar o que os gaúchos leem por aí. Mas o PoPa não conseguiu, nem no blog do deputado, saber o conteúdo do tal projeto aprovado. E foi no site da Assembléia para ver seu conteúdo importantíssimo para o desenvolvimento do Estado.

Notem, os dez leitores fiéis do PoPa, que muita coisa está sendo dita sobre este projeto, em especial que trata apenas de publicidade. Não é este o caso. A parte grifada coloca esta obrigatoriedade em qualquer documento escrito no Estado, inclusive, propaganda, publicidade ou meio de comunicação.

Há evidentes exageros em algumas situações. Mas o mercado trata de expurgar os maus publicitários, os que não tem criatividade. O que ninguém está dizendo, é que durante a Copa do Mundo, Porto Alegre estará cheia - o PoPa espera - de gente de todo o mundo. Correspondentes internacionais que coloquem seu material a disposição do público, terão de fazê-lo com tradução, já que os textos estarão sendo gerados no território gaúcho... Exagero? Ora, caros amigos, lei é lei. Se aprovada, vale para todos! Esqueçam a "Parada do Orgulho Gay", a Cow Parede, o Big Mac, o Subway. Carros como o Pajero, por exemplo, terão que ter uma plaqueta abaixo do nome com a tradução? Por favor, não usem a tradução de Pajero válida para o Uruguai! O programa "Patrola" da RBS vai precisar de um sobrenome - com mesmo destaque e tamanho - chamando-o de "motoniveladora", já que é um estrangeirismo... galeterias terão que colocar no cardápio "franguinho de primeiro cantar", ao invéz de "galeto ao primo canto"... oktoberfest, nem pensar! No máximo, "festival de outubro". Empresas não poderão anunciar jetski, terão que inventar alguma descrição para isso. Estrangeirismos não se limitam a anglicismos, como parece pensar o nobre deputado.

O Rio Grande do Sul, principalmente a metade sul, vive uma identidade cultural muito grande com os países do Prata. Por aqui, muitas expressões espanholas estão no dia a dia das pessoas. Privar desta riqueza cultural é um atraso sem precedentes. O alvo óbvio do comunista, é a língua inglesa, mas atinge a alma campera, pampeana, indissolúvel da identidade espanhola e portuguesa.

Outros exemplos importantes, nos levam à serra gaúcha, que tem uma grande identidade com a língua italiana, ao centro do Estado, com a alemã. Negar isto, é negar a própria história do RS. Mas esta, como muitas, será uma lei inaplicável, sem fundamento, que, o PoPa espera, não seja sancionada pelo governador.

Uma lástima que o deputado não se empenhe para trazer desenvolvimento para nossa terra, para proporcionar melhores condições de ensino básico, para melhorar a segurança das pessoas. No site da AL, as propostas dele se destinam a saudar fulanos, sicranos, homenagear sindicatos, bla, bla, bla...

Aí está a preciosidade:

Projeto de Lei nº 156 /2009
Deputado(a) xxxxxx

Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou
palavras estrangeiras para a língua portuguesa, sempre que
houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente, no
âmbito do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras
providências.

Art. 1º Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa, em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, sempre que houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente.

§ 1º – Nos casos excepcionais, em que não houver na língua portuguesa palavra ou expressão equivalente, o significado ou tradução da palavra ou expressão estrangeira deverá estar escrito, com o mesmo destaque, subseqüentemente a sua utilização no texto.

§ 2º - A tradução a que se refere o caput deste artigo deve ser do mesmo tamanho que as palavras em outro idioma expostas no documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação em questão.

Art. 2o Todos os órgãos, instituições, empresas e fundações públicas deverão priorizar na redação de seus documentos oficiais, sítios virtuais, materiais de propaganda e publicidade, ou qualquer outra forma de relação institucional através da palavra escrita, a utilização da língua portuguesa, nos termos desta lei.

Art. 3º Esta Lei poderá ser regulamentada para garantir sua execução e fiscalização e para definir as sanções administrativas a serem aplicadas àquele, pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que descumprir qualquer disposição desta lei

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Porto Alegre, 03 de agosto de 2009.

Deputado(a) xxxxx

O título deste post (postagem em um pequeno diário eletrônico na rede mundial de computadores) faz referência a uma música de Dante Ramon Ledesma, ele também uma vítima destes que não querem "estrangeirismos". Diz tudo! Assista ao vídeo. Além de uma bela música, uma aula de integração!

terça-feira, 19 de abril de 2011

As palavras...

O PoPa esteve em Porto Alegre, hoje e encontrou-se com o Cineman. Papo bom, regado a um espresso da melhor qualidade, quando surgiu a dúvida etimológica: o que significa, exatamente, homofobia? Pela base literal da palavra, fobia quer dizer medo, homo quer dizer igual. "Medo do que é igual"? E fobia é uma patologia, logo não pode ser considerado crime...

Segundo o dicionário:
Homo (palavra latina) s.m. Antropol. Genero de primatas antropóides ao qual pertence a espécie humana (com inicial maúscula)


homo- pref. Elemento que significa igual, semelhante.

Pois então precisamos de uma palavra que realmente classifique alguém que agrida homossexuais. Mas uma palavra que não agrida a língua portuguesa, também. O PoPa acredita que qualquer pessoa que agrida qualquer pessoa, por atos ou palavras, tem que responder perante a sociedade, na forma da lei. E esta lei já existe, não precisamos de mais leis para dizer que isso é crime!

O lado do "politicamente correto" também quer eliminar palavras estrangeiras de nossa língua. Querem impedir o desenvolvimento da linguagem contemporânea, da linguagem viva. Neste caso, como poderíamos chamar o "orgulho gay", usando uma palavra bem brasileira, que defina o caso?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

China e Zona Franca de Manaus

Por estes dias, o PoPa vem ouvindo muita gente falando sobre o estrago que a China faz na indústria brasileira. São comentaristas, empresários e até políticos. O que eles não falam, no entanto, é que todo o produto que entra no Brasil paga impostos. E paga muito! Nos portos do "Sul Maravilha", não ficam menos de 100% do valor da mercadoria em taxas e impostos. Paga-se até uma tal de taxa de Marinha Mercante, que são 25% do valor do frete, sobre o qual incidem os outros impostos, IPI, II, Cofins, Pis, taxas e mais taxas... Isso deveria equilibrar o valor dos produtos internos? Talvez não, pois temos um custo de produção ainda muito alto, em função de tecnologias inadequadas, custos sobre a folha de pagamento e por aí vai. Mas a diferença não é tão grande assim.

No entanto, ninguém comenta o que entra pela ZFM, que não paga a tal taxa de Marinha, não paga imposto de importação e não paga IPI. O imposto de renda é subsidiado e até mesmo o ICMS tem alguma vantagem dada pelo Estado. Como os índices de nacionalização do que é produzido por lá é ínfimo, temos uma verdadeira bomba no resto da indústria brasileira. Não se produz mais eletrodomésticos nestepaís, as motocicletas são importadas, televisões e muita quinquilharia.

Quando o Brasil vai perceber que incentivar uma região em plena floresta amazônica pode ser feito sem que o custo seja tão alto? Por que pretender que Manaus seja um polo tecnológico de ponta, quando se permite que sejam importados produtos que arrasam com o resto do mercado?

Além disso, há outro componente importante. As empresas lá localizadas não transferem toda a vantagem auferida para o consumidor. As margens de lucro são compatíveis com o mercado consumidor brasileiro, que está acostumado a pagar muito. Portanto, são muito grandes. É só verificar o que custa uma tv grande em um mercado competitivo como o americano. É o preço que deveria estar por aqui, em função das benesses obtidas por estas empresas.

Antes de culparem a China, olhem para nosso próprio território!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

FHC - O Papel das Oposições

Os fiéis dez leitores do PoPa, sabem que ele não gosta de "corta e cola". Mas este artigo, que está sendo demonizado pela imprensa nacional, precisa ser lido na íntegra, não em pequenos trechos pinçados fora do contexto. Leia, pode ser o início viral de um processo de reformulação da oposição brasileira. Talvez até por isso, esteja sendo criticado violentamente pelo conhecido PIG (partido da imprensa governista...). Não é um simples artigo. É uma lição para as oposições. É um manual de orientação para a classe média retomar seu papel de influência, merecido porque tem cultura, inteligência e paga impostos.

O PAPEL DAS OPOSIÇÕES
Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa “nanica”, mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia. Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do “arrocho” salarial. No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação.

Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário. Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?

Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?

Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva – no começo envergonhada e por fim mais deslavada – do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias. Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo. Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior. É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.


É preciso refazer caminhos

Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação. É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “cam¬peões nacionais” – as empresas que se globalizam – isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos. Era o sinal de “adeus às armas”: socialismo só para enganar trouxas, nacional-desenvolvimentismo só como “etapa”. Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto.

Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal. Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras. Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do PSDB. O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de “privatarias” que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo. As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB – as bolsas – que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero – voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e… do mundo!

Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado… passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo. As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a “governabilidade”, mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o Congresso. Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões, interesses – legítimos ou não – de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder. Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade. Com a aceitação sem protesto do “modo lulista de governar” por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa.

Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico-administrativa em uma pletora de recursos orçamentários “carimbados”, isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico. Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial.

Como, por outra parte, existe – ou existiu até há pouco – certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade. Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares). Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoa¬vam no Parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude.


Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?

Definir o público a ser alcançado
Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade. É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral. As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental. Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe C” ou de nova classe média. Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.

Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas. Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria. Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”? Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões “concretas” se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão, possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada.

Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o “episódio Erenice”. Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à moda de demonstrar um teorema e escrever “cqd”, como queríamos demonstrar. Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer – cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.


Qual é a mensagem?

Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe. Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade de massas madura é sua ação democratizadora. Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas. Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos.

Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática. Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado.

Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações “do PSDB” foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa. Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante? Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PCdoB, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.


Oposição precisa vender o peixe

Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas.

Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população. Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda.

Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo. O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos.

Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os “esqueletos” compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização – todos contabilizados – para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato. As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de… uma idade mínima de aposentadoria.


Petistas camaleões

Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã), em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo.

São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão. É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo.

Em suma: não há oposição sem “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”. É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?


Sinceridade comove a população

Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias. Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.

Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão? Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar. Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS. Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de “aparelhamento” da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras? Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal – o que pode não ser correto – não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir.

Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo “a elite”. Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista. Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da “lista fechada”, que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista “do Lula”?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?


Compromisso com o voto digital

Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação. Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional. Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em “caixa preta” nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas. Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas?

Por fim, retomando o que disse acima sobre o “triunfo do capitalismo”. O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia. Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela pobreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear?

A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma “selvagem” a sociedade democrática não aceita mais. Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico. Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade.

Estas formulações podem parecer abstra¬tas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando--nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar? Por exemplo, nossa “plasticidade cultural mestiça”, a aceitação das diferenças raciais – sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes – não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens? Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a “estatização do risco e divisão do lucro” entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.


Falta de estratégia

Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma “revolução educacional” que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro?

A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou.

De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas? Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática?

Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social. Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo. Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie.

No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade. Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos. Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação. As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, sociólogo, foi presidente da República (1995–2003) e é presidente de honra do PSDB.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Tempos estranhos!

O Brasil está vivendo tempos estranhos, muito estranhos. Por exemplo, o orçamento federal foi feito pela equipe do governo anterior, onde Dilma tinha pleno e total controle. Um orçamento é uma coisa bem complicada mas, na essência, deve colocar a arrecadação de um lado e os gastos de outro. O equilíbrio deve ser óbvio, não devendo sobrar nem faltar. No entanto, logo no início do governo, Dilma já falou em corte de 50 bilhões! EPA! Isso significa que o orçamento foi mal feito. De propósito ou apenas por incompetência? Qualquer das respostas nos deixa à mercê de um governo relapso ou mentiroso. Que não sabe o que faz ou que faz sabendo muito bem.

No rastro deste fracassado orçamento, o ministro da fazenda está espremendo o consumo. Mas, ao mesmo tempo, quer incentivar a indústria, que está sendo sucateada pelas importações. EPA! Incentivar a indústria ao mesmo tempo em que quer sufocar o consumo? Esquisito...

Os políticos de sempre estão querendo fazer mais um plebiscito sobre o desarmamento. Mas a população já disse que não quer, por que insistir? Se tivesse sido outro o resultado, em algum tempo deixariam fazer outro? E, já que estão querendo um plebiscito, poderíamos ganhar alguma coisa com esta desnecessária despesa acrescentando mais alguma pergunta do tipo: Você quer corruptos sendo julgados em 90 dias no máximo? E que a pena inclua, obrigatoriamente, privação da liberdade?

Políticos como o senador que propôs a volta do plebiscito já feito, contam com segurança armada. Talvez até para a família... É fácil tentar ganhar projeção em cima de uma tragédia!

Cria-se um partido que já inicia dizendo que não é de direita, nem esquerda, nem centro. E que vai trabalhar para "o que for melhor para o Brasil". E algum deles diz que trabalha para piorar o Brasil? Bem, eles fazem isso diariamente, mas não dizem, claro.

O Brasil está vivendo uma época estranha, muito estranha. A ausência total de oposição é incrível. Sarney e Collor apoiando a esquerda é impressionante!

Se alguém diz que não gosta de gays já é taxado de homofóbico. Se alguém é contra as cotas raciais, é classificado como racista. Se alguém se diz de direita, é fascista!

Tempos estranhos, em que até mesmo os conceitos são considerados preconceitos. A esperança que isso seja mudado nesta geração é quase nula, já que as escolas estão ensinando tudo, menos o que interessa.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Trilha do PoPa

Bem, infelizmente, o PoPa foi obrigado a afastar-se da Trilha, antes mesmo de entrar nela. Por não acreditar em nenhum tipo de preconceito, o PoPa não pode concordar com a idéia de que políticos, famosos ou celebridades não possam participar. Brasileiros são brasileiros e, entre eles, estão políticos, famosos e celebridades.

Por não concordar com preconceito em nenhuma instância, o PoPa está fora de um grupo onde não chegou a entrar. Mas torce para que eles tenham sucesso e que consigam à sua maneira, melhorar o Brasil e a vida dos brasileiros.

Até!

Pink Floyd - Another Brick in the Wall

Trilha dos rebelados

O PoPa tem ditado cada vez menos ao seu escriba. Ficou chocado com as vitórias de Dilma e Tarso e com o que se continua descobrindo na política brasileira. O Relatório da PF foi apenas mais um tijolo no muro das contravenções, dos crimes e do descaso que muitos – para não dizer a maioria – dos políticos brasileiros estão a cometer.

Mas o PoPa não está sozinho nesta desesperança quanto ao futuro brasileiro. Políticos e partidos não se deram conta e estão deixando uma importante parcela do eleitorado absolutamente desassistida. São os que não querem saber de corrupção, de elevados impostos, de gastos públicos além da conta, que não são adeptos do “politicamente correto”, que querem um governo liberal, mas também mais conservador.

Por conservador, o PoPa entende a manutenção de muitas das políticas econômicas, herdadas do tempo de FHC, mas com um controle muito maior dos gastos públicos, com transparência dos gastos, inclusive dos cartões corporativos da Presidência. Um governo que não precise fazer cortes do orçamento, pois este deveria ter sido feito com base técnica, sabendo o que iria arrecadar e o que iria gastar. Um governo que não faça parcerias espúrias, apenas para aprovar seus projetos. Um governo que não legisle através de medidas provisórias.

O PoPa percebe que existe uma importante parcela da população que não quer as empresas estatais gastando milhões em publicidade que nada mais é do que publicidade oficial de governo. Uma parcela da população que não quer o governo controlando empresas privadas através de sindicatos e do BNDES, como aconteceu com a Vale, recentemente.

O PoPa é conservador no que se refere ao controle de armas, entendendo que a população tem direito de ter sua arma para defesa de sua família e de sua propriedade. Desarmar o cidadão não deveria ser meta de governo.

O PoPa é conservador no que se refere às drogas. Não entende o governador dirigir-se a uma plateia de estudantes e dizer, sobre a maconha que “disseram que é muito saborosa”. Que papo é esse, governador?

O PoPa é um pouco mais liberal no que diz respeito ao aborto. Mesmo sendo contra este ato de extermínio, adota que existem situações em que ele se justifica.

O PoPa também é liberal no que diz respeito à homossexualidade. Admite o casamento gay e a adoção de crianças pelo casal. E por um motivo muito simples: estas crianças estarão melhores em uma família homossexual, que lhes dê amor, compreensão e abrigo, do que em um orfanato aguardando uma adoção que, muito provavelmente, não chegará. O PoPa só não admite a promiscuidade, que também é encontrada em héteros.

O PoPa é conservador no que diz respeito ao ensino, seja ele público ou privado. Escola é para ensinar conteúdos importantes, não para “formar cidadãos”. Lavagem cerebral contida em cartilhas e posicionamentos político-partidários por parte dos professores, não podem ser admitidas! Quem forma cidadãos é a família, é o convívio social – nas escolas, inclusive – mas não o conteúdo curricular. “Gastar tempo” estudando matemática, física, língua portuguesa e outros conteúdos importantes, é o que o conservador PoPa gostaria. De quebra, um bom sistema que permita ao estudante dedicar-se um pouco aos esportes e à leitura, com espaços adequados para as duas situações.

E o PoPa encontrou parceiros nesta empreitada. O blog http://trilhatiradentesvive.blogspot.com/ tenta colocar, na sociedade brasileira, um pouco da inconformidade de Tiradentes, com a vantagem que temos a internet para isso e que  se corre  o risco de enforcamentos apenas metafóricos.

Visite o blog, conheça um pouco do grupo que está querendo fazer, da rebeldia adormecida em nosso povo, um novo começo. Difícil? Muito, mas não impossível!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Até tu, Temer?

Pois o vice está enrolado em mais uma confusão. Teria recebido uma graninha boa - 614mil reais - quando era deputado federal, entre 95 e 98. Na teoria do PoPa, ninguém é corrupto apenas uma vez. Se comprovadamente houve esta, então houveram muitas outras. A novidade, se existe, é a coisa ter vazado... http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/suspeito-de-corrupcao-temer-e-investigado-pelo-supremo

Ministro mensaleiro, coisas para o futuro.

Em suas leituras matinais, o PoPa foi surpreendido por uma notícia interessante. O Supremo resolveu não incluir o relatório final da Polícia Federal em sua análise do "mensalão", para não atrasar  - ainda mais - o julgamento.

Coisa interessante, não é mesmo? O relatório da PF é conclusivo e não deixa dúvidas sobre o que realmente aconteceu naquele período. Não incluí-lo pode ser interpretado de várias formas, a depender do resultado final deste julgamento. O PoPa não entende muito destas coisas jurídicas mas entende que se houver uma possibilidade destes crápulas escaparem do julgamento por conta disso, vai doer muito na sociedade brasileira.

O PoPa é um cara que tem princípios e não entende o que se passa neste governo. Manter um ministro que é colocado em um relatório da Polícia Federal como um dos mensaleiros, é, no mínimo, uma afronta à justiça e à democracia! O governo sabe disso há muito tempo, nós ficamos sabendo apenas agora. Apenas a suspeita deveria ser suficiente para derrubá-lo! Mas estamos no Brasil governado pelo pt...

sábado, 2 de abril de 2011

Os militares e a democracia participativa

Os mais novos talvez não saibam, pois a história do Brasil não é ensinada apropriadamente nestepaís. Os militares tomaram o poder em 1964, tirando o presidente eleito, João Goulart. Naquele tempo, as eleições presidenciais eram estranhas, pois o presidente e o vice podiam não ser da mesma chapa, o que ocorreu neste período, com o maluco do Jânio ganhando para presidente e o Jango para vice, de chapas e partidos diferentes. Houve a ameaça real de Jango não assumir, mas ele conseguiu. Brizola fez uma movimentação grande na época, agitando o povo.

Bem, o que o PoPa gostaria de lembrar, é que os militares mantiveram o Congresso funcionando durante praticamente todo o período da dita ditadura. Em um primeiro momento, ganharam a representatividade necessária, com a cassação de vários parlamentares. Coisa truculenta, mas que funcionou, pois boa parte do congresso daquela época, rendeu-se aos atos militares. Sarney era um dos defensores do regime, mas teve outros que, se não defenderam, amoitaram-se.

O genial Golbery montou dois partidos, um da situação e outro da oposição. Naquela época, se sabia quem era oposição e tivemos algumas figuras que realmente souberam fazer oposição. Mas o regime não era tão ferrenho como se imagina hoje. Em 68, fizeram o AI5, que tirou algumas liberdades individuais mas, ainda assim, mantiveram o partido de oposição e eleições diretas em todos os níveis, exceto para presidente, governadores, e algumas cidades (capitais e fronteira). Este recrudescimento foi causado pelos atos terroristas, que precisavam ser contidos. Ou seja, os que queriam a queda do regime militar, nada fizeram além de prolongá-lo. O fato estranho é que os presidentes militares sempre foram eleitos por um colégio eleitoral, composto pelo congresso. Os representantes do povo, eleitos pelo voto direto, elegiam, indiretamente, o presidente. Aí entra a manipulação das eleições, com a alteração da proporcionalidade representativa na câmara e a inclusão do terceiro senador, indicado pelo governo federal. O estranho é que, na Constituinte, esta desproporcionalidade e este terceiro senador foram mantidos.

Hoje, convivemos com uma política representativa herdada do período militar. Felizmente, o presidente ainda é eleito por voto direto, com cada brasileiro tendo direito a um voto. No congresso, temos uma representatividade capenga, errada, onde um voto do Acre vale uns 13 votos de São Paulo.

E temos gente - políticos, claro - querendo o voto em lista. Já sabemos o que acontece com gente que não tem votos e é guindado a um cargo eletivo. São os atuais "senadores biônicos", suplentes que foram ali colocados pelos partidos, eleitos sem votos diretos e que devem fidelidade ao partido e não aos eleitores. Voto em lista é isso! Gente sem compromisso com seus eleitores. Para quê, se não precisarão dos votos para se eleger? Genoíno, para usar um exemplo atual, estaria na câmara e não em um empreguinho oficial, caso já tivéssemos o sistema das listas.

Pense nisso. O sistema político atual não é muito diferente do que tínhamos durante o período militar! Os que morreram naquele período, pegaram em armas, mataram, roubaram. Exceções houveram, é verdade. Herzog é o caso clássico. Mas, por outro lado, inocentes morreram nas mãos dos que queriam derrubar o regime, também. Considerando este tipo de conta - inocentes vs inocentes - os terroristas mataram mais que os militares.

Bem, participação popular é uma coisa complicada. Naquela época, os militares se mantiveram no poder por mais tempo, em função de um congresso - eleito pelo povo - que elegia o presidente... tivessem feito uma pesquisa de opinião, em vários períodos do regime militar, a aprovação popular teria sido muito alta. O PoPa estava lá!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Os erros dos governos militares

Pois os militares fizeram muita coisa ruim no Brasil. O PoPa consegue lembrar-se de várias, mas foca em duas, que alteraram o curso da história naquele momento e altera ainda hoje. Trata-se das alterações feitas no Congresso para que conseguissem se manter no poder por mais tempo. Ao colocar o terceiro senador por Estado, o governo da época conseguiu ganhar espaço perdido pelas oposições, que tinham apoio popular. Este terceiro senador, à época chamado de biônico, por ser escolhido pelo governo, foi mantido na Constituição de 88. Erro dos militares, erro dos que fizeram a Constituição (ou apenas mantendo a boquinha partidária).

O outro erro foi alterar a proporcionalidade da Câmara dos Deputados. Acreditem, os Estados tinham representação proporcional à sua população. Um voto no Acre valia a mesma coisa que um voto em São Paulo! Parece democrático? Os militares alteraram esta proporcionalidade, para manter-se no poder com o voto das áreas mais atrasadas do País. As mesmas áreas que, continuando atrasadas, mantiveram as distorções que temos na Câmara e nas suas votações. Erro dos militares, erro dos que fizeram a Constituição. Mas explicada facilmente pela própria composição da constituinte...

E querem que a gente acredite que este povo possa fazer uma reforma política decente? Reforma política deveria começar pelo retorno à proporcionalidade representativa, como em qualquer lugar decente. Reforma política deveria começar pela redução do Senado a duas vagas por Estado. Reforma política deveria começar pela extinção do suplente de senador, uma excreção equivalente ao senador biônico do tempo do regime militar.

Estamos melhores que então? O PoPa acha que estamos pior em muitas áreas, principalmente na área da corrupção, do enriquecimento rápido e fácil dos amigos do poder, da honestidade. Podem falar qualquer coisa dos presidentes militares. Nenhum - nem seus filhos - ficou rico no poder.