
O Pobre Pampa leu, em alguns blogs, uma entrevista do nosso velho conhecido, professor Buckup. O biólogo, que parece entender de muita coisa mas quase nada de eucaliptos, apresenta mais alguns motivos para não querer as florestas plantadas na Metade Sul do RS. Utiliza-se das técnicas de Schopenhauer (O Cineman vai ter que explicar isto em um tópico específico), para fazer valer seu ponto de vista. A entrevista foi publicada pela revista ADverso, da ADufrgs (Associação de Docentes da UFRGS), em seu número 147.
A entrevista é longa, mas o Pobre Pampa selecionou os "melhores momentos":
Lamentavelmente, o governo tem mostrado que não está a fim de fazer isso, liberando plantios em qualquer lugar e de qualquer maneira.
Os plantios respeitam os códigos florestais federal e estadual, logo não são plantios de qualquer maneira. O licenciamento está sendo feito sob a legislação em vigor e com cautela técnica pela FEPAM.
O zoneamento é uma exigência da lei, o Código Estadual de Meio Ambiente determina que ninguém pode promover uma atividade agrícola, que implica em profundas modificações ambientais, sem licenciamento. E não pode haver licenciamento sem um trabalho que identifique as zonas do Estado mais ou menos aptas para receber investimentos de natureza silvicultural.
Correto, professor, mas os técnicos da Fepam não tiveram a preocupação de fazer este zoneamento, apenas restringir o plantio. Por exemplo, não utilizaram as bacias hidrógráficas, mas Unidades de Paisagens Naturais, como deveriam ser há 500 anos e não são mais...
O zoneamento é um excelente documento, foi feito por pessoas qualificadíssimas, baseado em informações altamente confiáveis e referenciais bibliográficos incontestáveis.
A PROPOSTA de zoneamento apresentada pelos técnicos da FEPAM, levou em consideração o índice pluviométrico da Amazônia, a precipitação média de Bagé e outros referenciais absurdos para a configuração do documento. Onde estão as informações altamente confiáveis?
O zoneamento mostra que o Estado possui nove milhões de hectares disponíveis para plantar eucalipto. Sim, nos Campos de Cima da Serra e no Noroeste do Estado. Nada na Metade Sul...
A natureza sabe que, em função dos nutrientes disponíveis, do solo e da quantidade de água, a paisagem (do pampa
) deve ser de campo. O eucalipto tem uma enorme taxa evapotranspiratória, ou seja, chupa muita água. Ele vai buscar água no solo e nos arroios, rios e lagos. A secagem completa de fontes de água já foi descrita com detalhes em publicações científicas importantes e aconteceu em lugares como o sul da África, na Península Ibérica e em um lugar próximo daqui, o pampa argentino.
Imaginem que raiz deve ter esta planta para ir até os arroios, rios e lagos! Neste ponto da entrevista, o professor cai em um ato falho, citando:
Aliás, nem é preciso apelar para a ciência, qualquer habitante do interior sabe que plantar eucalipto é ótimo para secar banhado.
...depois que a terra das pessoas está cheia de eucalipto, não tem mais serviço. Vai fazer o que durante oito anos até o abate? Ele vai ter que sair do campo.
O professor acredita que as empresas vão plantar eucaliptos apenas um ano! A conta certa é que vão plantar, para cada unidade fabril, 15.000ha/ano, o que vai gerar empregos para a preparação de mudas (muita mão-de-obra especializada, pois não pode ser mecanizada), para o plantio e colheita, mesmo que mecanizado (mão-de-obra qualificada), para os cuidados dos três primeiros anos (mão-de-obra não qualificada), para os motoristas que transportarão, para o pessoal que prepara a alimentação e transporte dos trabalhadores, sem falar na área industrial. Ou seja, muito trabalho para uma região que não oferece emprego para ninguém! Além disso, o zoneamento pretende proibir o plantio próprio das empresas, nas terras delas! Qual o argumento para isto?
As empresas estão buscando apoio científico nas universidades. É muito mais fácil e barato uma empresa alcançar um recurso a um pesquisador, que fica feliz com o dinheiro que recebe. Porque se a empresa for contratar o indivíduo, terá que pagar salário, décimo terceiro, férias, previdência, montar laboratório.
Hehe, essa nem merece comentário...
O Rio Grande do Sul tem 28 milhões de hectares; a metade sul, 14 milhões. Destes 14 milhões, tire a Lagoa dos Patos, a Mirim, toda faixa arenosa onde não se planta nada e as áreas já utilizadas pela agricultura que somam quatro milhões de hectares. No final, 24% da metade sul do Estado ficará coberta de eucalipto, o que é muita coisa.
EPA! que conta maluca, sem a memória de cálculo do nobre professor, não dá para entender o raciocínio!!!!
Lá (na Austrália, onde o professor esteve pesquisando),
o eucalipto vive em forma de mata de savana, uma paisagem de campo com arbustos e árvores esparsas que nem sempre tocam suas copas. Na média, são 60 eucaliptos por hectare. Aqui vão plantar 1,7 mil por hectare.
1.700 árvores por hectare? onde foi feita esta conta???? com o espaçamento de 3mx3m, não cabem mais que 1.300 árvores por hectare, sendo que cerca de 50% da área não será plantada, então a conta deve ficar em 650 árvores, em média, por hectare, por propriedade. E lá, apesar de ser nativo, também se faz monocultura deles, nos mesmos moldes do proposto por aqui.
Mas o melhor está por vir:
Você imagina 1,7 mil tocos de eucalipto no meio do campo? O toco começa a se decompor depois de dez anos. Para arrancar, só com correntes e tratores. E quem paga isso? A Stora Enso não vai pagar e o proprietário da terra não terá dinheiro (provavelmente, as empresas não pagarão pelas árvores...)
. No plantio de eucalipto, não se faz o destocamento, planta-se outras mudas entre os tocos. Ou seja, em 14 anos, são 3,4 mil tocos de eucalipto no chão.
Árvores de sete anos têm um toco muito fino e que não vão começar a se decompor somente após dez anos. É possível fazer o rebaixamento do toco, com equipamento especial, a um custo aproximado de R$ 400,00/ha. É um custo relativamente alto, mas muito menor que o uso de tratores e correntes, coisa utilizada para arrancar tocos com mais de 30 anos. E, ao final do segundo ciclo, não existirão mais os primeiros tocos. E volto ao ponto inicial: e porque impedir o plantio em áreas próprias das empresas?
E, finalizando:
A última coisa que deveria ser investigada pelos órgãos públicos, até pelo Conselho de Segurança Nacional, é que estas empresas estão comprando terras exatamente sobre o Aqüífero Guarani. Em dez anos, água será mais importante que celulose. Será que queremos comprar água potável destas empresas? Como se pode ver, são muitas lâmpadas vermelhas acesas no painel do cuidado ambiental.
Estas sórdidas empresas estão utilizando o eucalipto para tomar conta do Aquífero Guarani!!!
Chega! Sem mais comentários...
Imagem: O Pampa visto pela Nasa