segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sudão - o país esquecido

Pouco se sabe do conflito e mesmo do país. Este estudo mostra um pouco da tragédia do Sudão. Colado deste site: http://www.tempopresente.org/

Desafiando o Silêncio: o genocídio no Sudão.

A África fica longe. E o que acontece naquela região fica longe de nós, apesar de sabermos que a vida humana não deve ser julgada a partir da localização geográfica - ou um suíço vale mais que um somali? No entanto, na maioria das vezes, a comunidade internacional finge não saber (ou acaba mesmo não sabendo) a extensão da violência nos Estados africanos. O Sudão, em guerra civil há mais de quatro décadas, é um exemplo disso.

Por: Bárbara Lima*

A violência no continente africano não é novidade e há quem diga, por conta disso, que é insolúvel. Ou pior, que habitantes em conflito devem ser abandonados à barbárie. O Sudão é apenas mais um país neste contexto trágico, com uma história que já produziu cerca de 1,5 milhão de vítimas.

Voltando no tempo, é possível identificar um histórico de conflitos sudaneses: a dominação árabe no século VII, que deixou marcas profundas (da Sharia à participação na Liga Árabe); a escravidão promovida pelos europeus, no contexto das colonizações do século XVI; a unificação do território pelo Egito (1820-1822) e depois o imperialismo britânico; as revoltas nacionalistas do século XIX; e a conquista da independência em 1956.

Como tantos outros Estados Africanos, frutos do processo de descolonização, a autonomia não se tornou sinônimo de paz. Ao contrário, os anos de luta e dominações avolumaram a incapacidade de convivência harmoniosa entre as tribos da região.

Assim, na década de 1960, a esperança na autonomia foi substituída por uma longa e sangrenta guerra civil.

A Organização das Nações Unidas e os Estados Unidos mostram-se resistentes em admitir que o que está acontecendo no Sudão, há mais de quarenta anos, é genocídio.

E o governo de Omar Hasan Ahmad al-Bashir (presidente da República do Sudão) justifica sua atitude como jhihad, ou seja, uma guerra santa contra os infiéis. Enquanto isso, o maior país da África sofre com a limpeza étnica, fruto do embate entre o governo de origem islâmica e parcelas da população de origem cristã, animistas ou outros grupos não-muçulmanos, e com a fome.

Desde 2003 o problema da República do Sudão concentra-se em Darfur (ver o mapa), região-palco dos conflitos entre o governo de Cartum e as milícias rebeldes.

As poucas informações sobre o que acontece no Oeste do Sudão dimensionam o genocídio: "Darfur é um pesadelo vivo hoje, neste lugar, e amanhã, talvez, em outro. Tensões tribais e raciais e inquietação regional conduziram a uma guerra em que os civis estão sendo punidos, assassinados e violentados." (ANDERSON, BBC Brasil.com, 24.07.2004)

Castração e assassinato: destino comum aos homens de Dafur

Os conflitos entre o governo, as milícias e a população civil, além do grande número de mortos, vêm produzindo milhares de refugiados. O deslocamento da população sudanesa torna-se perigoso, aumentando a tensão na região.

Os países no entorno, especialmente Chad, não possuem condições de somar às suas mazelas, os refugiados do conflito no Sudão, aumentando ainda mais o sofrimento. Na última semana, por conta disso, a situação agravou-se quando Chad resolveu romper relações diplomáticas com a República do Sudão, a fim de garantir o fechamento da fronteiras (LACEY, NYTimes, 15.04.2006).

A chegada dos refugiados: o campo já ultrapassou a capacidade

Mas nós pouco sabemos sobre o que está acontecendo na África; existem temas mais importantes. Poucas informações circulam numa comunidade internacional inerte, absorta noutras questões: a guerra no Iraque, a crescente animosidade com o Irã e a preocupação dos Estados Unidos e da Europa com seus imigrantes. As mortes no Sudão são apenas mais um capítulo - já visto na Somália ou na Bósnia - de uma questão em que os países desenvolvidos temem se intrometer.

Crianças no campo de refugiados em Chad

Diante deste quadro fica impossível não questionar por que o Sudão não estampa a primeira página dos jornais, não é manchete na televisão ou o eixo das discussões diplomáticas. Ou pior: quantos sudaneses precisam morrer em Dafur para que todos possam saber? A resposta (ouso apostar uma única) talvez seja tão cruel quanto as imagens e o sofrimento desta população: o silêncio encobre a tragédia e não os obriga a intervir.

Referências Bibliográficas:

ANDERSON, Hilary. Fome mata lentamente refugiados de Darfur. BBC Brasil.com. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2004/07040725_darfurtestemunhorg.shtml Acesso em 16.04.2006

CRISIS in Darfur. Human Right Watch. Disponível em:http://hrw.org/doc?t=africa&c=darfur. Acesso em: 16.04.2006.

DARFUR: A genocide we can stop. Disponível em: www.darfurgenocide.org Acesso em: 16.04.2006

LACEY, Marc. After Battle in Capital, Chad Threatens to Expel Sudanese. New York Times Online.
Disponível em: http://www.nytimes.com/2006/04/15/world/africa/15chad.html?_r=1&th&emc=th&oref=slogin. Acesso em: 15.04.2006

O GOVERNO Sudanês comete "limpeza étnica" em Darfour. Human Right Watch. Disponível em: http://hrw.org/portuguese/press/2004/darfur050704.pdf Acesso em: 16.04.2006

* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Comparada e pesquisadora do Laboratório de Estudos do Tempo Presente (UFRJ).

Um comentário:

Anônimo disse...

E, caso alguma potência resolva botar as mãos na massa para tentar resolver a questão, os pacifistas do mundo irão unir-se contra o intervencionismo branco na África. Como quando os americanos resolveram intervir na Somália no início dos anos 90, e os pacifistas acusaram interesses... geográficos! A Somália seria geograficamente bem favorecida, o que teria motivado uma missão militar dos gringos no país.

Não adianta. Se alguém fizer algo, será acusado de ter feito por motivos egoístas, se não fizer nada, então é um egoísta por excelência, que não liga para o sofrimento alheio.