O Cachorro Louco fez um comentário interessante no post sobre biodiesel:
E o pré-sal, como fica? Afinal a redenção do Brasil, segundo afirmou o governo, virá do pré-sal. Passaríamos a viver de brisa só com o lucro do pré-sal. Este dinheiro daria para trezentos milhões de bolsa -familia. Causa estranheza o governo metendo a mão neste assunto. Com certeza tem "coisa" por trás.
Na verdade, só o que sabemos sobre o pré-sal, é o que diz a propaganda do governo. Faltam detalhes técnicos do óleo, do ponto de equilíbrio dos poços, dos investimentos em pesquisa que ainda são necessários e muita coisa mais. O Pré-sal não é algo simples, já que está em profundidade muito grande, com uma parede de rocha ainda maior. O PoPa acha que é algo interessante para ser pesquisado e o governo fez, pelo menos, uma grande bobagem ao limitar a pesquisa e prospecção ao nível público, sem abrir para as grandes empresas. Talvez até tenha sido uma estratégia, pois também não sabemos se estas empresas estariam interessadas no assunto. Afinal, gastar montanhas de dinheiro para tirar óleo em vinte anos, não é uma estratégia muito interessante para quem tem acesso a fontes mais simples, baratas e imediatas.
Para o Brasil, que não é autosuficiente em petróleo (não é, apesar de propaganda em contrário), pois precisa importar petróleo leve para auxiliar no craqueamento do nosso petróleo pesado, pode ser uma boa linha de P&D, mas a cautela manda que não seja investido mais que o razoável neste futuro incerto. O governo está utilizando o pré-sal (tem mesmo este hífen pelas regras novas?) como propaganda política e isso nunca é saudável!
Se o biocombustível é uma opção ao pré-sal? Provavelmente, também depois de muita pesquisa, pois o custo ainda é elevado, em comparação com o diesel craqueado do petróleo. Mas é preciso considerar que no perfil do craqueamento brasileiro, precisamos fazer gasolina em excesso para termos a quantidade de diesel que precisamos, o que resulta em exportações de gasolina a baixo custo (sabia disso?). Somente ano passado, exportamos 1,9 milhão de toneladas de gasolina (pura, sem mistura de álcool) a um preço médio de R$ 1,50/litro (dados aliceweb do MDIC). Este ano, até setembro, a quantidade exportada já chegou perto do ano passado (1,4 milhão de toneladas) mas a um preço ridículo: menos que R$ 0,83! Tá bom assim?
Com o biodiesel, poderemos processar menos petróleo, resultando em menos sobra de gasolina. Isso como regra geral, pois é mais complicado do que parece.
Enquanto isso, mantemos o percentual de 25% na gasolina vendida nos postos, causando um acréscimo do álcool hidratado, pela falta do produto. Não é necessária - economicamente falando - a adição desta quantidade de álcool na gasolina brasileira. A quem interessa? Quem se beneficia de nossa gasolina barata?
O mais estranho desta equação, é que o grande comprador de gasolina brasileira é Antilhas Holandesas (61%). Bem, talvez não seja tão estranho, pois as Antilhas são especializadas em importar petróleo venezuelano e refinar em seus portos, para posterior venda. Deve ser um bom negócio comprar a gasolina brasileira a este preço e revendê-la na Europa... EPA! Bom negócio?
Mas o menor valor pago é para a Venezuela, R$ 0,72/litro e a mais cara, para Angola. Valores FOB, nada a ver com distâncias ou meio de transporte, portanto.
Este assunto valeria uma análise mais profunda, mas o PoPa é um pouco preguiçoso, mesmo.
Imagem: onde fica o pré-sal. Observe que, sem considerar o oceano, existe uma camada de 4 a 5km a ser furada para chegar ao pré-sal.