domingo, 1 de abril de 2007

REFORMA AGRÁRIA - UM PROJETO SÉRIO - (1)

Em 1967 ou 68 o Banco de Desenvolvimento financiou um projeto de colonização em Ivoti. Eu tive oportunidade de acompanhar o desenvolvimento deste projeto a partir de 1969. Era uma idéia que não podia dar errado. Os financiados eram agricultores japoneses, assistidos pela JAMIC que era uma empresa de colonização japonesa e com o objetivo de implantar pomares de uvas de mesa de alta qualidade, moranguinho e criação de frango. Até uma instalação de irrigação bastante sofisticada para a época foi financiada e instalada na área do projeto. Como vocês veem muito diferente destes projetinhos do INCRA da chamada agricultura familiar , que pretendem tornar viável comodities como o soja na micro propriedade rural.
Eram 22 ou 23 agricultores japoneses que com o passar do tempo iamos vendo que não tinham a mínima condição de tornar o projeto viável. Apenas 3 ou 4 estavam muito bem. Uma meia duzia estava razoável e os demais eram um desastre. Quando fomos analisar as causas descobrimos que a turma do desastre não tinha origem na agricultura. Ou seja, mesmo japonês, se não tem origem na terra a coisa fica muito dificil.
Conseguimos sair do projeto numa negociação com a JAMIC onde tivemos que perdoar alguns juros e multas para não perder tudo.
O que aconteceu depois? Os que tinham origem agrícola continuaram e se sairam muito bem. Os que não eram agricultores cederam suas terras para outros com mais conhecimento e experiência. Hoje a Colônia de Ivoti é um sucesso. E o sucesso não é porque eram japoneses, era porque, no final, eram todos agricultores.
Agora o INCRA vem insistindo em fazer assentamentos com um pessoal que nunca viu agricultura na vida. Claro que eu entendo as razões políticas. A revolução socialista, a luta contra o imperialismo, a luta contra os transgênicos, contra os eucaliptos etc.. Pode dar certo? Claro que não. Mas será que faltam filhos de agricultores que tenham interesse em ganhar seus lotes para produzir? Certamente não. É que estes não estão dispostos a se colocar debaixo da lona preta e ficar recebendo cesta de alimentação e nem tem aptidão para exercer como único trabalho uma invasão aqui outra ali. Mais importante. Eles não estão organizados politicamente para fazer pressão sobre as autoridades.
Voltaremos ao assunto na próxima postagem.

Um comentário:

Carlos Silva disse...

Houve uma tentativa, há alguns anos, de financiar a aquisição de lotes de terra para filhos de agricultores da Colônia Nova. Gente recém casada que queria seu espaço. E, muito importante, não queriam de graça! Queriam financiamento desta terra. Infelizmente, não conseguiram e tiveram que adiar um pouco o sonho. O prefeito de Canguçú cadastrou cerca de 700 pequenas propriedades semi-abandonadas pelos proprietários (muitos deles idosos que precisaram deslocar-se para a cidade). Ofereceu estas áreas para o INCRA (ainda no governo FHC) e obteve como resposta que isto não interessava aos "movimentos sociais"... porque? a resposta é nossa: porque não conseguiriam coordenar este povo, diluído entre agricultores de verdade!