sexta-feira, 6 de abril de 2007

Entre Porto Alegre e Pelotas...

Olhando o mapa do Rio Grande do Sul, observa-se que, entre Pelotas e Porto Alegre, está a belíssima Lagoa dos Patos. Não dá para ver neste tipo de mapa, mas a planície costeira que liga as duas cidades é absolutamente plana. Esta realidade geográfica poderia levar um incauto observador de outras plagas a concluir que aqui, entre estas duas importantes cidades ou entre a capital e o porto marítimo do Estado, haveria uma grande movimentação de embarcações e o uso intensivo de um ramal ferroviário.

Nada mais falso! É verdade que esta geografia facilitaria em muito estes tipos de modal de transporte, mas nossa realidade é bem diferente. Nos primórdios da colonização européia, as mentes iluminadas dos burocratas de então, resolveram que os argentinos poderiam invadir o Brasil de trem... então, uma das consequências foi a diferença de bitola entre a que existe no RS e no restante do Brasil. Estipulou-se, por lei, que a zona de fronteira (150km) não poderia ter indústria de base, não poderia ter indústrias ou terras em nome de estrangeiros e outras baboseiras. Como este é um estado que foi construído por imigrantes, é fácil imaginar o que restou para cá: grandes áreas de terras mantidas por homens rudes, com seus próprios exércitos para defender a fronteira meridional do Brasil. Ainda existem resquícios desta legislação, o que dificultou, por exemplo, a aquisição de terras na Fronteira Oeste, pela empresa Stora Enso (http://www.storaenso.com).

Apesar de acharmos ridículas as decisões dos burocratas d´antanho, os atuais não parecem muito melhores. Decisões cruciais para o desenvolvimento desta Metade Sul são tomadas nos gabinetes de Porto Alegre, sem considerar-se a opinião e desejo dos habitantes daqui, como aconteceu recentemente com o zoneamento florestal. A propósito, o tal zoneamento não contou com a participação de nenhum agrônomo. E continuamos sem o ramal ferroviário, com a BR116 absolutamente congestionada de caminhões rumo ao porto.

Ainda sobre ferrovias, há alguns anos o BNDES patrocinou um estudo realizado pela Universidade do Rio de Janeiro, onde analisaram vários trechos de ferrovias brasileiras que ligassem médias cidades e fossem subutilizadas, com a intenção de possibilitar o transporte de passageiros em carros auto-propelidos, um tipo de vagão motorizado, muito usado na Europa.

Dos nove trechos analisados em todo o Brasil, um deles ficava entre Rio Grande e Pelotas. Apenas 16km, entre a Vila Quinta e o centro de Rio Grande, precisaria de pequenas reformas, já que o trem de carga neste ponto desvia-se para o Porto. Pois sem maiores explicações, a concessionária da ferrovia (ALL) retirou TODOS os trilhos deste trecho, juntamente com os dormentes de madeira e a base de brita. Nenhuma voz elevou-se contra este roubo de patrimônio público, como também não se elevaram as vozes pelotenses quando esta mesma concessionária retirou todos os trilhos da área de manobra da estação pelotense. Ações que inviabilizaram um belo projeto de transporte da população e que contribuiram para dificultar a implantação de um ramal ferroviário entre Pelotas e Porto Alegre.

Uma novidade: veja este post! Espero que não fique somente na comunicação...

Culpa de nossos governos. Culpa de nossos políticos. Culpa das nossas lideranças empresariais. Culpa nossa!

4 comentários:

nedelande disse...

Não esquecendo que nesta rota entre Porto Alegre e Pelotas até há pouco tempo existia uma fronteira real, inclusive com alfândega totalmente absurda vistoriando todos os produtos que vinham da e iam para a Metade Sul. Esta alfândega foi fechada agora mas os meninos da Fazenda devem fazer ela retornar logo,logo.

Carlos Silva disse...

Com a voracidade arrecadatória do atual governo, certamente vai voltar. Mas existe outra explicação para a briga do pessoal da Fazenda: como o posto fica em outro município (Guaíba), o pessoal que trabalha lá e está lotado em Porto Alegre, ganha diária...

Era uma fronteira mesmo, pois era o único posto Estadual que não estava em fronteiras reais. Daqui de baixo, não defendemos a extinção pura e simples deste posto, mas a criação de fronteiras no eixo Caxias/Porto Alegre, igualando as oportunidades de atendimento ao mercado de Porto Alegre...

Carlos Silva disse...

Depois de ler o contrato da ALL no site da própria ANTT, em nenhum lugar encontrei embasamento para a retirada dos trilhos. Então, fiz uma consulta à ouvidoria da ANTT, para saber como e porque eles tinham autorizado (e se tinham autorizado) este tipo de ação. Não responderam...

PoPa disse...

Hoje, recebi uma comunicação da ouvidouria da ANTT. Estão analisando e buscando onde está (se existe) a autorização legal para esta retirada de trilhos. Bom sinal!