Parece que, finalmente, o governo do Estado está se dando conta de que a FEPAM está analisando os pedidos de licença das empresas florestadoras, baseando-se no zoneamento florestal, ainda não aprovado! Ou seja, é uma lei que não existe, mas que está servindo de alicerce para tocarmos as empresas para fora do Estado. Provavelmente a Bahia está torcendo para que isto aconteça e eles ganhem mais alguma coisa do RS, como aconteceu com a GM.
Como podem um secretário de estado e o presidente de uma estatal fazerem algo assim? Como pode a Governadora aceitar isto? Ou será que ela não sabia do fato? Bem, ela certamente não lê este blog... Hoje na Zero Hora, ela demonstra que sabe e não está satisfeita com o fato. Oras, se não está satisfeita e os referidos ainda estão nos seus cargos, como explicar isto para a comunidade da Metade Sul? A agilidade que ela teve com o Secretário da Segurança, deveria ter neste caso, também, muito mais grave. Vamos esperar mais uns dias para ver no que dá.
Imagem: bois em um mato de eucalipto no Espírito Santo (Incaper)
segunda-feira, 30 de abril de 2007
sábado, 28 de abril de 2007
Nova invasão
Pois o MST resolveu invadir - novamente - a Estância da Palma. Na primeira vez, fizeram errado, pois invadiram a propriedade vizinha! Acabaram invadindo a que estava sendo vistoriada pelo Incra o que impede - legalmente - que a vistoria seja feita nos próximos dois anos. E a propriedade está com um interdito proibitório, ou seja, não pode ser invadida. E o que deveria ser feito? desocupação imediata e enquadramento dos invasores, pois se não sabiam da primeira vez o que era um interdito, agora já sabem.
E estão plantando batata, milho, feijão e alface. Deve ser a primeira vez que tentam fazer isto na vida, já que está completamente fora de época... brincam de agricultores, brincam com a justiça, brincam com a sociedade! Vai ficar assim? Vai, pois o movimento não tem personalidade jurídica e a ele nada pode ser imputado. Algo como o Comando Vermelho.
Eu sei que o MST não tem personalidade jurídica, mas o site deles é mantido por uma entidade com CNPJ. Logo, poderia ser a responsável por isto (é só entrar em http://registro.br e verificar quem é o proprietário do site www.mst.org.br).
Enquanto isto, no próprio site do MST, eles reclamam que os produtores do Paraná estão fazendo um Movimento dos Produtores Rurais, que está rechaçando as invasões. Segundo Celso Ribeiro Barbosa, dirigente estadual do MST, "Nós estamos preocupados, porque os fazendeiros estão prometendo que cada ação do MST vai ter uma reação”. Ruim isso, não?
Mais ações contra a Metade Sul do RS. Em lugar dos eucalíptos, invasões. Em lugar do desenvolvimento, a destruição da região por assentamentos sem apoio técnico, sem produção, sem infra-estrutura. Interessante que a Fepam não fiscalize estes assentamentos e as áreas que pretendem para assentamento. Por que não é feito um zoneamento para os assentamentos? E porque será que nenhum deles é auto-suficiente até hoje?
E estão plantando batata, milho, feijão e alface. Deve ser a primeira vez que tentam fazer isto na vida, já que está completamente fora de época... brincam de agricultores, brincam com a justiça, brincam com a sociedade! Vai ficar assim? Vai, pois o movimento não tem personalidade jurídica e a ele nada pode ser imputado. Algo como o Comando Vermelho.
Eu sei que o MST não tem personalidade jurídica, mas o site deles é mantido por uma entidade com CNPJ. Logo, poderia ser a responsável por isto (é só entrar em http://registro.br e verificar quem é o proprietário do site www.mst.org.br).
Enquanto isto, no próprio site do MST, eles reclamam que os produtores do Paraná estão fazendo um Movimento dos Produtores Rurais, que está rechaçando as invasões. Segundo Celso Ribeiro Barbosa, dirigente estadual do MST, "Nós estamos preocupados, porque os fazendeiros estão prometendo que cada ação do MST vai ter uma reação”. Ruim isso, não?
Mais ações contra a Metade Sul do RS. Em lugar dos eucalíptos, invasões. Em lugar do desenvolvimento, a destruição da região por assentamentos sem apoio técnico, sem produção, sem infra-estrutura. Interessante que a Fepam não fiscalize estes assentamentos e as áreas que pretendem para assentamento. Por que não é feito um zoneamento para os assentamentos? E porque será que nenhum deles é auto-suficiente até hoje?
sexta-feira, 27 de abril de 2007
AINDA AS FLORESTAS ENCANTADAS
Pois parece que o Pobre Pampa tinha razão. Estamos em vias de perder os investimentos em florestamento na Metade Sul. E por culpa de quem? da FEPAM? Claro que não. Os técnicos da FEPAM, praticantes fervorosos da religião ambiental, cumprem apenas os preceitos de sua Biblia. Impedir ou pelo menos retardar qualquer tipo de investimento que possa representar algum dano para o meio ambiente. Esta ação é feita com alguns cuidados ideológicos é claro. Não se sabe de nenhuma proibição para instalação de assentamentos na Metade Sul apesar de serem, teóricamente, mais danosos para o meio ambiente do que a plantação de eucaliptos. Arar as terras do Pampa e plantar soja e milho? Dificilmente vamos encontrar algo menos ecológico. Claro que os assentados acabam não oferecendo nenhum risco porque o bolsa familia dispensa o plantio de qualquer coisa.
Mas enfim isto é o que se espera da FEPAM. Nada diferente do que fizeram em qualquer governo. A ação diferente que se espera é do governo. Hoje eu ouvi um deputado da situação, Berfran Rosado, dizer que os técnicos da FEPAM estão se colocando acima do governo. Que estão fazendo suas posições ficarem acima do que quer o governo e o povo gaucho. Por favor. O governo é que está deixando os técnicos colocarem suas posições acima dos interesses do estado. Vamos governar. E sem preocupações com o que possa parecer politicamente correto. O Lula fêz isto. Literalmente enquadrou o IBAMA. Dividiu em dois órgãos, um para cuidar dos passarinhos e outro para opinar sobre os riscos ambientais nos projetos de desenvolvimento.
Então vamos governar. Nós não vamos colocar a culpa na FEPAM. Nós sabemos de quem é a culpa se estes projetos não acontecerem.
Mas enfim isto é o que se espera da FEPAM. Nada diferente do que fizeram em qualquer governo. A ação diferente que se espera é do governo. Hoje eu ouvi um deputado da situação, Berfran Rosado, dizer que os técnicos da FEPAM estão se colocando acima do governo. Que estão fazendo suas posições ficarem acima do que quer o governo e o povo gaucho. Por favor. O governo é que está deixando os técnicos colocarem suas posições acima dos interesses do estado. Vamos governar. E sem preocupações com o que possa parecer politicamente correto. O Lula fêz isto. Literalmente enquadrou o IBAMA. Dividiu em dois órgãos, um para cuidar dos passarinhos e outro para opinar sobre os riscos ambientais nos projetos de desenvolvimento.
Então vamos governar. Nós não vamos colocar a culpa na FEPAM. Nós sabemos de quem é a culpa se estes projetos não acontecerem.
quarta-feira, 18 de abril de 2007
As Florestas Encantadas
Apesar de estar no Rio Grande do Sul há mais de 150 anos, apenas agora o eucalipto foi elevado à condição de inimigo público. Quais as justificativas técnicas?
É uma espécie exótica... bem espécies exóticas são cultivadas desde a invasão européia nestes pagos. Ainda bem, pois estaríamos comendo mandioca, peixe e alguma caça até hoje, já que arroz, feijão, morango, tomate, alface, tudo é exótico. O milho, apesar de ser da América do Sul, não existia por aqui, também.
Não, a justificativa seria que é uma ÁRVORE exótica. Bem, também o é o pêssego, a maçã, o kiwi, a pecaneira, a acácia negra e tantas outras cultivadas aqui na Metade Sul (e sempre como monoculturas) e das quais não se fala em extermínio ou proibição.
Não, os "técnicos" não podem permitir a MONOCULTURA! E o que seriam as outras culturas que temos por aqui e pelo mundo afora? Como pretender alimentar a humanidade com pequenas lavouras?
Na Assembléia Legislativa, as opiniões são francas, com poucas vozes levantando-se em defesa de nossa terra. O dep. petista, ELVINO BOHN GASS disse em um evento "Peço a transcrição nos anais da Casa do jornal ExtraClasse, do Sindicato dos professores – Sinp (o autor errou o nome do sindicato, que é Sinpro/RS)–, edição 98, com o título seguinte: Pampa pode virar deserto verde. artigo servirá para que façamos uma reflexão sobre monoculturas, nesse caso a monocultura de árvores, que para nós não representa desenvolvimento". E o que diz o trabalho citado pelo nobre deputado? A transcrição está no site da AL. Entre as preciosidades encontradas, estão algumas declarações pseudo-científicas, como: "Entre os danos ambientais denunciados pelo Movimento estão a degradação do solo, que geralmente fica descoberto nos dois anos após a plantação e nos dois anos depois da colheita, a erosão e a compactação gerada pelo uso de máquinas pesadas. Outro grave impacto, apontado por Ana Filippini (ativista do grupo uruguaio Guayubira), é a escassez dos recursos hídricos em função do alto consumo de água necessário para as monoculturas". Porque a citação de um jornal agregado a um sindicato que, por profissão, nada entende de monocultura, consumo de água, espécies exóticas, agricultura em geral? Porque não citar o jornal do CREA, por exemplo? Talvez porque lá não tenham essas baboseiras escritas... Se tiver interesse em ler o conteúdo integral , veja em http://www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/dez05/especial.asp. Mas não recomendo, claro. Apenas para registro: o deputado, que é do noroeste do Estado, área de grandes extensões de monocultura de soja, trigo, milho, aveia, nunca elevou a voz contra estas culturas...
Solo descoberto? Talvez eles não saibam que o solo fica mais tempo descoberto nas culturas anuais plantadas com tecnologia convencional. E há a matemática burra de tentar dizer que a terra fica desnuda por quatro anos (dois anos depois do plantio e dois anos depois da colheita). Como o plantio é imediato ao corte, seriam apenas dois anos, mas isto não é verdade, pois a área não é lavrada, como na agricultura tradicional.
Erosão e compactação? O trânsito de equipamentos pesados somente se fará a cada sete anos, quando da colheita e, mesmo assim, não são mais pesados que colheitadeiras de soja, trigo, milho, arroz...
Alto consumo de água? O eucalipto consome água como qualquer ser vivo e lavouras de arroz, com absoluta certeza, consomem muito mais. Mas não queremos acabar com a produção arrozeira. Ou queremos?
Onde está a verdade, então?
Vejam estas declarações do pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ludwig Buckup (de espetacular curriculum, mas sem nenhuma presença na Metade Sul):
"A gente nota que há uma preocupação de se fazer um zoneamento que leve em conta as peculiaridades ambientais do espaço meridional do Estado, com as áreas apropriadas e não apropriadas para o plantio. Acho que é um documento que deve ser seguido mesmo. Mas é claro que as indicações que estão naquele zoneamento conflitam com o interesse das empresas, de plantar onde querem e como querem, e com cobertura do governo".
"As empresas, no seu propósito, não acenam com nenhuma medida que realmente leve em conta a preservação ambiental. Elas querem plantar e colher, não importa onde nem como e a que custo. Os custos ambientais eles desconhecem, não querem. As manifestações, especialmente da Ageflor, são todas neste sentido. O que importa é aquilo que tem sido anunciado, até pelo governo, do resgate econômico da Metade Sul a qualquer custo, nem que seja o custo ambiental. Por isso, a única alternativa que existe agora é que o zoneamento ambiental seja respeitado, e de que forma alguma seja prorrogado o Termo de Ajustamento de Conduta".
O professor (http://lattes.cnpq.br/5441205171157685) parece não conhecer a realidade destes projetos. Devemos salientar que os projetos das empresas florestais contemplam, sim, medidas importantes para a conservação ambiental. Nos seus projetos, é previsto o levantamento preliminar para identificação da fauna e flora, localização das APP (áreas de preservação permanente), da reserva legal de 20%, do interesse histórico ou arqueológico e a criação de corredores entre estas áreas destacadas, para a circulação de espécies nativas. Além disso, prevê a preservação de nascentes e cursos d´água, como determina a legislação nacional e estadual e atendendo às mais exigentes normas internacionais. Com isto, apenas 50% das áreas adquiridas pelas empresas seriam realmente plantadas com eucalíptos.
Na proposta de Zoneamento realizada pela FEPAM a equipe técnica foi composta por um arquiteto, quatro biólogos, dois geógrafos, um engenheiro químico e um engenheiro florestal (sete mulheres e três homens). Nenhum agrônomo, nenhum veterínário. Considerando que as principais atividades da região referem-se à agricultura e à pecuária, é uma estranha divisão de tarefas. Já nos "Princípios Norteadores" deste trabalho, encontramos a primeira aversão ao eucalípto, denotando que o trabalho foi dirigido contra esta espécie: "Buscar o fortalecimento e a diversificação da economia local, evitando a dependência da produção florestal a um único produto (o grifo é meu)". Os agradecimentos do trabalho também referem-se à "equipe técnica do Serviço da Região do Litoral, do Guaíba, do Uruguai, do GeoFepam e Divisão Agrossilvopastoril da FEPAM". Onde estariam os agradecimentos às universidades da Metade Sul (nunca é demais lembrar que a UFSM elaborou um inventário florestal gaúcho), às entidades ligadas ao agronegócio (mesmo públicas, como a EMATER) e a entidades da região da Campanha ou da Fronteira Oeste? Não foram consultadas neste trabalho? Talvez os zelosos técnicos (não sei quantos seriam da Metade Sul e quantos estão aquerenciados em Porto Alegre) não tenham entendido que para haver uma diversificação, algo novo tem que entrar na economia...
Onde está a verdade?
A Metade Sul enfrenta um índice de desemprego da ordem de 20%. Falta emprego, falta dignidade, falta apoio político. Quando aparecem projetos que podem minimizar esta situação, a tecnoburocracia oficial trata de barrar estas tentativas, sob a alegação de preservação ambiental. Mas a espécie mais ameaçada de extinção, nesta região, é o "homem digno". Aquele que tem emprego e pode sustentar dignamente sua família. Mas, para esta espécie, não há defensores
Onde está a verdade, então?
Porto Alegre contra o Pampa! Esta é a verdade!
Imagem: Guerreiro Farroupilha (autor: JR)
É uma espécie exótica... bem espécies exóticas são cultivadas desde a invasão européia nestes pagos. Ainda bem, pois estaríamos comendo mandioca, peixe e alguma caça até hoje, já que arroz, feijão, morango, tomate, alface, tudo é exótico. O milho, apesar de ser da América do Sul, não existia por aqui, também.
Não, a justificativa seria que é uma ÁRVORE exótica. Bem, também o é o pêssego, a maçã, o kiwi, a pecaneira, a acácia negra e tantas outras cultivadas aqui na Metade Sul (e sempre como monoculturas) e das quais não se fala em extermínio ou proibição.
Não, os "técnicos" não podem permitir a MONOCULTURA! E o que seriam as outras culturas que temos por aqui e pelo mundo afora? Como pretender alimentar a humanidade com pequenas lavouras?
Na Assembléia Legislativa, as opiniões são francas, com poucas vozes levantando-se em defesa de nossa terra. O dep. petista, ELVINO BOHN GASS disse em um evento "Peço a transcrição nos anais da Casa do jornal ExtraClasse, do Sindicato dos professores – Sinp (o autor errou o nome do sindicato, que é Sinpro/RS)–, edição 98, com o título seguinte: Pampa pode virar deserto verde. artigo servirá para que façamos uma reflexão sobre monoculturas, nesse caso a monocultura de árvores, que para nós não representa desenvolvimento". E o que diz o trabalho citado pelo nobre deputado? A transcrição está no site da AL. Entre as preciosidades encontradas, estão algumas declarações pseudo-científicas, como: "Entre os danos ambientais denunciados pelo Movimento estão a degradação do solo, que geralmente fica descoberto nos dois anos após a plantação e nos dois anos depois da colheita, a erosão e a compactação gerada pelo uso de máquinas pesadas. Outro grave impacto, apontado por Ana Filippini (ativista do grupo uruguaio Guayubira), é a escassez dos recursos hídricos em função do alto consumo de água necessário para as monoculturas". Porque a citação de um jornal agregado a um sindicato que, por profissão, nada entende de monocultura, consumo de água, espécies exóticas, agricultura em geral? Porque não citar o jornal do CREA, por exemplo? Talvez porque lá não tenham essas baboseiras escritas... Se tiver interesse em ler o conteúdo integral , veja em http://www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/dez05/especial.asp. Mas não recomendo, claro. Apenas para registro: o deputado, que é do noroeste do Estado, área de grandes extensões de monocultura de soja, trigo, milho, aveia, nunca elevou a voz contra estas culturas...
Solo descoberto? Talvez eles não saibam que o solo fica mais tempo descoberto nas culturas anuais plantadas com tecnologia convencional. E há a matemática burra de tentar dizer que a terra fica desnuda por quatro anos (dois anos depois do plantio e dois anos depois da colheita). Como o plantio é imediato ao corte, seriam apenas dois anos, mas isto não é verdade, pois a área não é lavrada, como na agricultura tradicional.
Erosão e compactação? O trânsito de equipamentos pesados somente se fará a cada sete anos, quando da colheita e, mesmo assim, não são mais pesados que colheitadeiras de soja, trigo, milho, arroz...
Alto consumo de água? O eucalipto consome água como qualquer ser vivo e lavouras de arroz, com absoluta certeza, consomem muito mais. Mas não queremos acabar com a produção arrozeira. Ou queremos?
Onde está a verdade, então?
Vejam estas declarações do pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ludwig Buckup (de espetacular curriculum, mas sem nenhuma presença na Metade Sul):
"A gente nota que há uma preocupação de se fazer um zoneamento que leve em conta as peculiaridades ambientais do espaço meridional do Estado, com as áreas apropriadas e não apropriadas para o plantio. Acho que é um documento que deve ser seguido mesmo. Mas é claro que as indicações que estão naquele zoneamento conflitam com o interesse das empresas, de plantar onde querem e como querem, e com cobertura do governo".
"As empresas, no seu propósito, não acenam com nenhuma medida que realmente leve em conta a preservação ambiental. Elas querem plantar e colher, não importa onde nem como e a que custo. Os custos ambientais eles desconhecem, não querem. As manifestações, especialmente da Ageflor, são todas neste sentido. O que importa é aquilo que tem sido anunciado, até pelo governo, do resgate econômico da Metade Sul a qualquer custo, nem que seja o custo ambiental. Por isso, a única alternativa que existe agora é que o zoneamento ambiental seja respeitado, e de que forma alguma seja prorrogado o Termo de Ajustamento de Conduta".
O professor (http://lattes.cnpq.br/5441205171157685) parece não conhecer a realidade destes projetos. Devemos salientar que os projetos das empresas florestais contemplam, sim, medidas importantes para a conservação ambiental. Nos seus projetos, é previsto o levantamento preliminar para identificação da fauna e flora, localização das APP (áreas de preservação permanente), da reserva legal de 20%, do interesse histórico ou arqueológico e a criação de corredores entre estas áreas destacadas, para a circulação de espécies nativas. Além disso, prevê a preservação de nascentes e cursos d´água, como determina a legislação nacional e estadual e atendendo às mais exigentes normas internacionais. Com isto, apenas 50% das áreas adquiridas pelas empresas seriam realmente plantadas com eucalíptos.
Na proposta de Zoneamento realizada pela FEPAM a equipe técnica foi composta por um arquiteto, quatro biólogos, dois geógrafos, um engenheiro químico e um engenheiro florestal (sete mulheres e três homens). Nenhum agrônomo, nenhum veterínário. Considerando que as principais atividades da região referem-se à agricultura e à pecuária, é uma estranha divisão de tarefas. Já nos "Princípios Norteadores" deste trabalho, encontramos a primeira aversão ao eucalípto, denotando que o trabalho foi dirigido contra esta espécie: "Buscar o fortalecimento e a diversificação da economia local, evitando a dependência da produção florestal a um único produto (o grifo é meu)". Os agradecimentos do trabalho também referem-se à "equipe técnica do Serviço da Região do Litoral, do Guaíba, do Uruguai, do GeoFepam e Divisão Agrossilvopastoril da FEPAM". Onde estariam os agradecimentos às universidades da Metade Sul (nunca é demais lembrar que a UFSM elaborou um inventário florestal gaúcho), às entidades ligadas ao agronegócio (mesmo públicas, como a EMATER) e a entidades da região da Campanha ou da Fronteira Oeste? Não foram consultadas neste trabalho? Talvez os zelosos técnicos (não sei quantos seriam da Metade Sul e quantos estão aquerenciados em Porto Alegre) não tenham entendido que para haver uma diversificação, algo novo tem que entrar na economia...
Onde está a verdade?
A Metade Sul enfrenta um índice de desemprego da ordem de 20%. Falta emprego, falta dignidade, falta apoio político. Quando aparecem projetos que podem minimizar esta situação, a tecnoburocracia oficial trata de barrar estas tentativas, sob a alegação de preservação ambiental. Mas a espécie mais ameaçada de extinção, nesta região, é o "homem digno". Aquele que tem emprego e pode sustentar dignamente sua família. Mas, para esta espécie, não há defensores
Onde está a verdade, então?
Porto Alegre contra o Pampa! Esta é a verdade!
Imagem: Guerreiro Farroupilha (autor: JR)
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Da invasão européia aos nossos dias
"E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê".
Assim terminava a célebre carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei Manuel I, de Portugal. A primeira correspondência brasileira já encerrava fazendo um pedido nepótico ao superior hierárquico. Nada mal para um primeiro uso do jeitinho brasileiro que nada mais é que pura corrupção. Durante estes mais de 500 anos, este jeitinho foi aprimorado, lapidado e chegou ao seu melhor momento no atual governo, cuja "coalizão" deixaria "El Rei D. Manuel I" babando!Aqui no RS, temos uma empresa de segurança privada fazendo a segurança da Secretaria da... Segurança! Um contrato do governo anterior que, segundo o ex-secretário Bacci, a governadora não permitiu que fosse cancelado. Tem também um contrato de limpeza de delegacias do interior, que nunca foram limpas por este pessoal, mas pelos próprios funcionários públicos. Está mais do que na hora de todos os contratos serem transparentes e divulgados amplamente para que a população possa fazer sua parte, que é fiscalizar a aplicação de seu dinheiro. No lugar de verbas de publicidade, verbas para divulgar este tipo de contrato, para orientar a população a fiscalizar a boa aplicação da grana pública. Muito me parece que esta nunca foi a intenção de nenhum governante por estas plagas. Lembram a carta? Mesmo sabendo que a terra já tinha dono, pois encontraram os índios ao aqui chegarem, Pero Vaz relata: "do que nesta Vossa terra vi". Pois alguns políticos e burocratas devem pensar: "nesta Nossa terra", mas não certamente com ímpetos patrióticos e sim com uma torpe noção de propriedade privada, mesmo. E para isso, aliam-se inimigos para dividir o butim.
Imagem: fac-simile da carta de Pero Vaz de Caminha
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Interrompemos nossa programação normal...
Este é um blog que não deveria discutir problemas do governo que não estão diretamente ligados à Metade Sul, mas não podemos deixar de comentar a demissão do Secretário Bacci pela Governadora. Este foi um ato de absoluta burrice e um risco à continuidade de seu próprio governo, pois deverá perder o apoio do partido do ex-secretário (o PDT, do qual esperamos coerência e imediata retirada do governo). A nota oficial é uma obra de arte... de cima de seu pedestal, a Governadora simplesmente ignorou um dos poucos trabalhos que estavam mantendo algum fôlego de seu governo junto ao público, junto à sociedade. Bacci não estava no papel de um homem do Governo, mas sim no papel de um homem do Estado e por ele lutava!
Na nota oficial, Yeda diz: A Segurança Pública é e continuará sendo prioridade deste Governo. A Brigada Militar, a Polícia Civil e os demais órgãos do aparato estatal de segurança continuarão cumprindo – como vêm fazendo com louvor – as diretrizes estabelecidas pela governadora Yeda Crusius na prevenção e repressão ao crime para garantir o bem-estar de todos os gaúchos. Nunca é demais lembrar da crítica que ela fez quando a Brigada Militar matou alguns assaltantes em confronto direto. Prioridade? Vamos esperar para ver...
Imagem: Ex-secretário Enio Bacci
Na nota oficial, Yeda diz: A Segurança Pública é e continuará sendo prioridade deste Governo. A Brigada Militar, a Polícia Civil e os demais órgãos do aparato estatal de segurança continuarão cumprindo – como vêm fazendo com louvor – as diretrizes estabelecidas pela governadora Yeda Crusius na prevenção e repressão ao crime para garantir o bem-estar de todos os gaúchos. Nunca é demais lembrar da crítica que ela fez quando a Brigada Militar matou alguns assaltantes em confronto direto. Prioridade? Vamos esperar para ver...
Imagem: Ex-secretário Enio Bacci
terça-feira, 10 de abril de 2007
O Terceiro Senador
A força política de nossa região sempre deixou a desejar, pelo menos desde o meados do século passado. Com a revolução de 64, chamada "Redentora", a situação ficou ainda pior. Para a manutenção do poder com ares de democracia, nos primeiros anos, foram cassados os políticos contrários ao poder estabelecido. Depois, foram alteradas as forças políticas, com a criação de uma proporção falsa no cenário brasileiro: senadores "biônicos" e mais força aos estados conservadores do nordeste, com a ampliação da presença deles na câmara dos deputados. A constituição de 88 manteve estas forças desiguais e este é um dos problemas que atinge a Região Sul e, com mais força, a Metade Sul do RS.
O Brasil é bi-cameral, ou seja, temos um congresso composto de Senado e Câmara dos Deputados. Estes deveriam representar o povo e aqueles deveriam representar os estados. O que aconteceu? com a quebra da proporcionalidade, feita pela Redentora e mantida pela Constituinte, os estados estão representados nas duas casas, mas o povo dos estados mais populosos acabou ficando subrepresentado. Assim temos, por exemplo, no antigo estado de Goiás, o mesmo número de senadores que a Região Sul inteira: Goiás, Tocantins e Brasilia (qual a intenção de Brasília ter senadores?) tem a mesma força política no Senado que RS, PR e SC.
Como e porque isto foi feito? A emenda nª 1 da Constituição de 67 criou um Colégio Eleitoral para a eleição do presidente, cujos membros eram os participantes do Congresso Nacional e delegados das Assembléias Legislativas. Os militares não pretendiam entregar o poder e criaram mecanismos para ficarem mais um tempinho. Mas, claro, precisavam contar com a ajuda do tal Colégio Eleitoral. Geisel foi o primeiro a ser eleito por este colégio em 1974. Em 1976, com o avanço das oposições, o governo criou o "senador biônico", uma terceira cadeira por estado que era indicado pelo próprio governo (seu voto cativo, evidentemente).
Mas nosso assunto aqui é: porque foi mantido este terceiro senador, quando da Constituinte? Dois por estado já não seriam suficientes? A manutenção deste terceiro cargo, apenas mostra que uma Constituinte realizada por políticos de carreira procura a auto-preservação de seus feudos, como o fizeram os militares.
Atualmente temos visto manobras ainda mais perniciosas ao País, para a manutenção do poder a qualquer custo. O mensalão, os vale-esmolas e seus desdobramentos, por exemplo, lembram em muito nosso antigo "Colégio Eleitoral". E vamos permanecer assim por um bom tempo, pelo jeito, já que os feudos estão se solidificando e quem deveria combatê-los acabou por unir-se a eles.
Imagem: Ernesto Geisel, 29º presidente da república brasileira, contando alguns inteirinos...
O Brasil é bi-cameral, ou seja, temos um congresso composto de Senado e Câmara dos Deputados. Estes deveriam representar o povo e aqueles deveriam representar os estados. O que aconteceu? com a quebra da proporcionalidade, feita pela Redentora e mantida pela Constituinte, os estados estão representados nas duas casas, mas o povo dos estados mais populosos acabou ficando subrepresentado. Assim temos, por exemplo, no antigo estado de Goiás, o mesmo número de senadores que a Região Sul inteira: Goiás, Tocantins e Brasilia (qual a intenção de Brasília ter senadores?) tem a mesma força política no Senado que RS, PR e SC.
Como e porque isto foi feito? A emenda nª 1 da Constituição de 67 criou um Colégio Eleitoral para a eleição do presidente, cujos membros eram os participantes do Congresso Nacional e delegados das Assembléias Legislativas. Os militares não pretendiam entregar o poder e criaram mecanismos para ficarem mais um tempinho. Mas, claro, precisavam contar com a ajuda do tal Colégio Eleitoral. Geisel foi o primeiro a ser eleito por este colégio em 1974. Em 1976, com o avanço das oposições, o governo criou o "senador biônico", uma terceira cadeira por estado que era indicado pelo próprio governo (seu voto cativo, evidentemente).
Mas nosso assunto aqui é: porque foi mantido este terceiro senador, quando da Constituinte? Dois por estado já não seriam suficientes? A manutenção deste terceiro cargo, apenas mostra que uma Constituinte realizada por políticos de carreira procura a auto-preservação de seus feudos, como o fizeram os militares.
Atualmente temos visto manobras ainda mais perniciosas ao País, para a manutenção do poder a qualquer custo. O mensalão, os vale-esmolas e seus desdobramentos, por exemplo, lembram em muito nosso antigo "Colégio Eleitoral". E vamos permanecer assim por um bom tempo, pelo jeito, já que os feudos estão se solidificando e quem deveria combatê-los acabou por unir-se a eles.
Imagem: Ernesto Geisel, 29º presidente da república brasileira, contando alguns inteirinos...
sexta-feira, 6 de abril de 2007
Entre Porto Alegre e Pelotas...
Olhando o mapa do Rio Grande do Sul, observa-se que, entre Pelotas e Porto Alegre, está a belíssima Lagoa dos Patos. Não dá para ver neste tipo de mapa, mas a planície costeira que liga as duas cidades é absolutamente plana. Esta realidade geográfica poderia levar um incauto observador de outras plagas a concluir que aqui, entre estas duas importantes cidades ou entre a capital e o porto marítimo do Estado, haveria uma grande movimentação de embarcações e o uso intensivo de um ramal ferroviário.
Nada mais falso! É verdade que esta geografia facilitaria em muito estes tipos de modal de transporte, mas nossa realidade é bem diferente. Nos primórdios da colonização européia, as mentes iluminadas dos burocratas de então, resolveram que os argentinos poderiam invadir o Brasil de trem... então, uma das consequências foi a diferença de bitola entre a que existe no RS e no restante do Brasil. Estipulou-se, por lei, que a zona de fronteira (150km) não poderia ter indústria de base, não poderia ter indústrias ou terras em nome de estrangeiros e outras baboseiras. Como este é um estado que foi construído por imigrantes, é fácil imaginar o que restou para cá: grandes áreas de terras mantidas por homens rudes, com seus próprios exércitos para defender a fronteira meridional do Brasil. Ainda existem resquícios desta legislação, o que dificultou, por exemplo, a aquisição de terras na Fronteira Oeste, pela empresa Stora Enso (http://www.storaenso.com).
Apesar de acharmos ridículas as decisões dos burocratas d´antanho, os atuais não parecem muito melhores. Decisões cruciais para o desenvolvimento desta Metade Sul são tomadas nos gabinetes de Porto Alegre, sem considerar-se a opinião e desejo dos habitantes daqui, como aconteceu recentemente com o zoneamento florestal. A propósito, o tal zoneamento não contou com a participação de nenhum agrônomo. E continuamos sem o ramal ferroviário, com a BR116 absolutamente congestionada de caminhões rumo ao porto.
Ainda sobre ferrovias, há alguns anos o BNDES patrocinou um estudo realizado pela Universidade do Rio de Janeiro, onde analisaram vários trechos de ferrovias brasileiras que ligassem médias cidades e fossem subutilizadas, com a intenção de possibilitar o transporte de passageiros em carros auto-propelidos, um tipo de vagão motorizado, muito usado na Europa.
Dos nove trechos analisados em todo o Brasil, um deles ficava entre Rio Grande e Pelotas. Apenas 16km, entre a Vila Quinta e o centro de Rio Grande, precisaria de pequenas reformas, já que o trem de carga neste ponto desvia-se para o Porto. Pois sem maiores explicações, a concessionária da ferrovia (ALL) retirou TODOS os trilhos deste trecho, juntamente com os dormentes de madeira e a base de brita. Nenhuma voz elevou-se contra este roubo de patrimônio público, como também não se elevaram as vozes pelotenses quando esta mesma concessionária retirou todos os trilhos da área de manobra da estação pelotense. Ações que inviabilizaram um belo projeto de transporte da população e que contribuiram para dificultar a implantação de um ramal ferroviário entre Pelotas e Porto Alegre.
Uma novidade: veja este post! Espero que não fique somente na comunicação...
Culpa de nossos governos. Culpa de nossos políticos. Culpa das nossas lideranças empresariais. Culpa nossa!
Nada mais falso! É verdade que esta geografia facilitaria em muito estes tipos de modal de transporte, mas nossa realidade é bem diferente. Nos primórdios da colonização européia, as mentes iluminadas dos burocratas de então, resolveram que os argentinos poderiam invadir o Brasil de trem... então, uma das consequências foi a diferença de bitola entre a que existe no RS e no restante do Brasil. Estipulou-se, por lei, que a zona de fronteira (150km) não poderia ter indústria de base, não poderia ter indústrias ou terras em nome de estrangeiros e outras baboseiras. Como este é um estado que foi construído por imigrantes, é fácil imaginar o que restou para cá: grandes áreas de terras mantidas por homens rudes, com seus próprios exércitos para defender a fronteira meridional do Brasil. Ainda existem resquícios desta legislação, o que dificultou, por exemplo, a aquisição de terras na Fronteira Oeste, pela empresa Stora Enso (http://www.storaenso.com).
Apesar de acharmos ridículas as decisões dos burocratas d´antanho, os atuais não parecem muito melhores. Decisões cruciais para o desenvolvimento desta Metade Sul são tomadas nos gabinetes de Porto Alegre, sem considerar-se a opinião e desejo dos habitantes daqui, como aconteceu recentemente com o zoneamento florestal. A propósito, o tal zoneamento não contou com a participação de nenhum agrônomo. E continuamos sem o ramal ferroviário, com a BR116 absolutamente congestionada de caminhões rumo ao porto.
Ainda sobre ferrovias, há alguns anos o BNDES patrocinou um estudo realizado pela Universidade do Rio de Janeiro, onde analisaram vários trechos de ferrovias brasileiras que ligassem médias cidades e fossem subutilizadas, com a intenção de possibilitar o transporte de passageiros em carros auto-propelidos, um tipo de vagão motorizado, muito usado na Europa.
Dos nove trechos analisados em todo o Brasil, um deles ficava entre Rio Grande e Pelotas. Apenas 16km, entre a Vila Quinta e o centro de Rio Grande, precisaria de pequenas reformas, já que o trem de carga neste ponto desvia-se para o Porto. Pois sem maiores explicações, a concessionária da ferrovia (ALL) retirou TODOS os trilhos deste trecho, juntamente com os dormentes de madeira e a base de brita. Nenhuma voz elevou-se contra este roubo de patrimônio público, como também não se elevaram as vozes pelotenses quando esta mesma concessionária retirou todos os trilhos da área de manobra da estação pelotense. Ações que inviabilizaram um belo projeto de transporte da população e que contribuiram para dificultar a implantação de um ramal ferroviário entre Pelotas e Porto Alegre.
Uma novidade: veja este post! Espero que não fique somente na comunicação...
Culpa de nossos governos. Culpa de nossos políticos. Culpa das nossas lideranças empresariais. Culpa nossa!
terça-feira, 3 de abril de 2007
REFORMA AGRARIA - UM PROJETO SÉRIO (2)
Logo que eu comecei a trabalhar no Banco de Desenvolvimento, talvez por causa de meu trabalho anterior com pequenos produtores rurais na antiga ASCAR (hoje EMATER), meu chefe na ocasião me escalou para analisar um projeto de colonização rural. Isto foi por volta de 1970, em plena revolução, com Medici como o general de plantão. A revolução, por incrivel que possa parecer hoje, tinha uma grande preocupação com a questão agrária e, descontada a experiência de Brizola no Banhado do Colégio e as desapropriações feitas pelo Jango na Belem-Brasilia, foi quem iniciou o processo de reforma agrária no Brasil. O Estatuto da Terra é criação do governo militar. Mas voltando, o projeto do INCRA (ou era INDA na época?) tinha como objetivo estabelecer um assentamento na região de Encruzilhada do Sul com filhos de produtores rurais da região de Encantado. O projeto era bem mais sofisticado que os atuais. Já como uma diferença fundamental utilizava agricultores, gente com experiência nas lides da terra. Os lotes eram de 20 a 25 hectares. Previa uma mecanização comunitária muito interessante, com tratores para cada grupo de 2 ou 3 produtores e colheitadeiras para cada grupo de 6 ou 7 produtores. Assistência técnica dada pelos agrônomos do próprio INCRA. Armazenagem dimensionada para a produção do núcleo. Pois todas as simulações que fizemos não davam viabilidade ao empreendimento. Claro que dentro de um raciocinio capitalista, ou seja, o projeto tinha que se pagar num período de dez anos. Não aprovamos o projeto comprando uma enorme encrenca com o INCRA. Na época comprar uma encrenca com o governo era muito complicado e arriscado.
Outro banco, um banco federal, acabou financiando o emprendimento. O desastre anunciado. Não creio que existam vestigios deste assentamento. Qual foi o erro fundamental do projeto? O mesmo de sempre. Tentar viabilizar a produção de comodities em pequena propriedade. O produto principal era o soja. Nada de gado de leite, frutas, suinos, coisas que aqueles produtores de Encantado até estavam acostumados a fazer. Não. Só soja. Era mais fácil..e inviável. Esta análise me deu certa fama em projetos de assentamento e acabei sendo convidado para analisar outro projeto, desta vez no Paraná. Era bem diferente. Em primeiro lugar não era o INCRA que patrocinava mas sim uma cooperativa de produtores rurais. Cooperativa de médios produtores rurais e que operavam agricultura com padrões bem acima da média. O assentamento era para os filhos destes produtores. Os lotes previstos eram acima de 100 hectares. Mecanização coletiva. Produtos: soja e trigo. Comodities, mas comodities em áreas compatíveis. A seleção dos filhos de agricultores foi por mérito. Os mais capacitados ganharam as terras. Tudo para dar certo, não? Aprovamos a operação. Custou muito a deslanchar. Houve sérios problemas nos quatro primeiros anos que preocuparam muito o Banco. Mas acabou dando certo, o empréstimo foi pago e o assentamento está consolidado. Eu sou um defensor da reforma agrária, sempre fui. Mas acho que a reforma agrária é um projeto muito sério. Não dá para fazer estas coisas que andam fazendo por aí. Vocês viram que um projeto muito bem feito, com agricultores com bom nível tecnológico, com áreas adequadas, com assistência técnica, com estrutura mercadológica, enfrentou dificuldades então o que é que pode acontecer com pessoas que nem agricultores são, sem nível tecnológico nenhum, assistência técnica zero, sem nenhuma preocupação ou conhecimento de mercado, em áreas incompatíveis com os produtos que pretendem produzir? É uma resposta fácil, infelizmente. A tragédia anunciada.
Até a próxima postagem
Outro banco, um banco federal, acabou financiando o emprendimento. O desastre anunciado. Não creio que existam vestigios deste assentamento. Qual foi o erro fundamental do projeto? O mesmo de sempre. Tentar viabilizar a produção de comodities em pequena propriedade. O produto principal era o soja. Nada de gado de leite, frutas, suinos, coisas que aqueles produtores de Encantado até estavam acostumados a fazer. Não. Só soja. Era mais fácil..e inviável. Esta análise me deu certa fama em projetos de assentamento e acabei sendo convidado para analisar outro projeto, desta vez no Paraná. Era bem diferente. Em primeiro lugar não era o INCRA que patrocinava mas sim uma cooperativa de produtores rurais. Cooperativa de médios produtores rurais e que operavam agricultura com padrões bem acima da média. O assentamento era para os filhos destes produtores. Os lotes previstos eram acima de 100 hectares. Mecanização coletiva. Produtos: soja e trigo. Comodities, mas comodities em áreas compatíveis. A seleção dos filhos de agricultores foi por mérito. Os mais capacitados ganharam as terras. Tudo para dar certo, não? Aprovamos a operação. Custou muito a deslanchar. Houve sérios problemas nos quatro primeiros anos que preocuparam muito o Banco. Mas acabou dando certo, o empréstimo foi pago e o assentamento está consolidado. Eu sou um defensor da reforma agrária, sempre fui. Mas acho que a reforma agrária é um projeto muito sério. Não dá para fazer estas coisas que andam fazendo por aí. Vocês viram que um projeto muito bem feito, com agricultores com bom nível tecnológico, com áreas adequadas, com assistência técnica, com estrutura mercadológica, enfrentou dificuldades então o que é que pode acontecer com pessoas que nem agricultores são, sem nível tecnológico nenhum, assistência técnica zero, sem nenhuma preocupação ou conhecimento de mercado, em áreas incompatíveis com os produtos que pretendem produzir? É uma resposta fácil, infelizmente. A tragédia anunciada.
Até a próxima postagem
domingo, 1 de abril de 2007
REFORMA AGRÁRIA - UM PROJETO SÉRIO - (1)
Em 1967 ou 68 o Banco de Desenvolvimento financiou um projeto de colonização em Ivoti. Eu tive oportunidade de acompanhar o desenvolvimento deste projeto a partir de 1969. Era uma idéia que não podia dar errado. Os financiados eram agricultores japoneses, assistidos pela JAMIC que era uma empresa de colonização japonesa e com o objetivo de implantar pomares de uvas de mesa de alta qualidade, moranguinho e criação de frango. Até uma instalação de irrigação bastante sofisticada para a época foi financiada e instalada na área do projeto. Como vocês veem muito diferente destes projetinhos do INCRA da chamada agricultura familiar , que pretendem tornar viável comodities como o soja na micro propriedade rural.
Eram 22 ou 23 agricultores japoneses que com o passar do tempo iamos vendo que não tinham a mínima condição de tornar o projeto viável. Apenas 3 ou 4 estavam muito bem. Uma meia duzia estava razoável e os demais eram um desastre. Quando fomos analisar as causas descobrimos que a turma do desastre não tinha origem na agricultura. Ou seja, mesmo japonês, se não tem origem na terra a coisa fica muito dificil.
Conseguimos sair do projeto numa negociação com a JAMIC onde tivemos que perdoar alguns juros e multas para não perder tudo.
O que aconteceu depois? Os que tinham origem agrícola continuaram e se sairam muito bem. Os que não eram agricultores cederam suas terras para outros com mais conhecimento e experiência. Hoje a Colônia de Ivoti é um sucesso. E o sucesso não é porque eram japoneses, era porque, no final, eram todos agricultores.
Agora o INCRA vem insistindo em fazer assentamentos com um pessoal que nunca viu agricultura na vida. Claro que eu entendo as razões políticas. A revolução socialista, a luta contra o imperialismo, a luta contra os transgênicos, contra os eucaliptos etc.. Pode dar certo? Claro que não. Mas será que faltam filhos de agricultores que tenham interesse em ganhar seus lotes para produzir? Certamente não. É que estes não estão dispostos a se colocar debaixo da lona preta e ficar recebendo cesta de alimentação e nem tem aptidão para exercer como único trabalho uma invasão aqui outra ali. Mais importante. Eles não estão organizados politicamente para fazer pressão sobre as autoridades.
Voltaremos ao assunto na próxima postagem.
Eram 22 ou 23 agricultores japoneses que com o passar do tempo iamos vendo que não tinham a mínima condição de tornar o projeto viável. Apenas 3 ou 4 estavam muito bem. Uma meia duzia estava razoável e os demais eram um desastre. Quando fomos analisar as causas descobrimos que a turma do desastre não tinha origem na agricultura. Ou seja, mesmo japonês, se não tem origem na terra a coisa fica muito dificil.
Conseguimos sair do projeto numa negociação com a JAMIC onde tivemos que perdoar alguns juros e multas para não perder tudo.
O que aconteceu depois? Os que tinham origem agrícola continuaram e se sairam muito bem. Os que não eram agricultores cederam suas terras para outros com mais conhecimento e experiência. Hoje a Colônia de Ivoti é um sucesso. E o sucesso não é porque eram japoneses, era porque, no final, eram todos agricultores.
Agora o INCRA vem insistindo em fazer assentamentos com um pessoal que nunca viu agricultura na vida. Claro que eu entendo as razões políticas. A revolução socialista, a luta contra o imperialismo, a luta contra os transgênicos, contra os eucaliptos etc.. Pode dar certo? Claro que não. Mas será que faltam filhos de agricultores que tenham interesse em ganhar seus lotes para produzir? Certamente não. É que estes não estão dispostos a se colocar debaixo da lona preta e ficar recebendo cesta de alimentação e nem tem aptidão para exercer como único trabalho uma invasão aqui outra ali. Mais importante. Eles não estão organizados politicamente para fazer pressão sobre as autoridades.
Voltaremos ao assunto na próxima postagem.
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