domingo, 20 de julho de 2008

Gratuidade e outras fantasias


Em tempos de CPMF, CSS, CID e outras tantas "contribuições", o texto de Yoana, do Generación Y, é de boa leitura. Parece ser este o futuro que Lpt quer para o Brasil:

Vou buscar um colírio para meu olho direito, que está irritado há alguns dias. Duas horas de espera no médico da família, me permitem inteirar-me de todas as fofocas do bairro, da boca das vizinhas que vão "passear" no consultório. A doutora queixa-se que tem muita carga de trabalho, porque parte de seus colegas está em missão na Venezuela, e me escreve uma receita enquanto come uma pizza de seis pesos. Na policlínica, o panorama é similar, mas a preocupação com meu olho, faz com que me comporte bem e espere que me atendam. Um senhor, com óculos antediluvianos, me adverte que ele está na fila desde seis da manhã, assim calculo que poderei terminar de ler um romance enquanto aguardo. Com ironia, uma velhinha me insinua - sem que eu tenha aberto a boca -“esto es así porque es gratis, si hubiera que pagarlo, otro gallo cantaría”.

Não me surpreende esta expressão, pois frases como estas aparecem cada vez com mais freqüência em toda a parte, mas fico pensando no raro conceito de gratuidade que influencia a senhora. Ao ouvi-lo, eu imagino que a lâmpada de Aladim, esfregada por onze milhões de cubanos, conseguiu prover-nos destes hospitais, das escolas e outros "subsídios" tão anunciados. Mas a miragem do gênio com seus três desejos dura pouco, percebo que para tudo isso, pagamos um alto preço, todos os dias.
O dinheiro não sai, como a senhora crê, do bolso caridoso dos que nos governam, mas dos altos impostos que nos cobram por cada produto adquirido nas lojas de pesos convertíveis, dos excessivos pagamentos que nos obrigam a fazer nos trâmites migratórios, da humilhação que as moedas estrageiras tem nesta ilha e da subvalorização salarial a que estão sujeitos todos os trabalhadores. Somos nós que pagamos estes serviços que, por ironia, não podemos nos queixar.

Mais, pagamos também a gigantesca infra-estrutura militar, que, em seus delírios de guerra, consomem uma boa parte da produção nacional. De nossos bolsos furados,k saem as campanhas políticas, as marchas de solidariedade e os excessos que nosso governo se permite ter por todo o mundo. Somos nós que financiamos nossas próprias mordaças, os microfones que nos escutam, os informantes que nos delatam e até a tranquila parcimônia de nossos parlamentares.

De gratuidade, nada. Cada dia pagamos um alto preço por todas estas coisas. Não somente em dinheiro, tempo e energia, mas também em liberdades. Somos nós mesmos os que pagamos a gaiola, o alpiste e as tesouras que nos cortam as asas.

Imagem: do Generación Y: "criatividade ou necessidade?"

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