domingo, 22 de junho de 2008

Los Buzos


Do Generación Y, de Cuba:

Creio ser um dos poucos habitantes de Cuba – menores de 40 anos – que lêem a imprensa nacional todo dia. Meus amigos, ao verem hobby tão excêntrico, advertem-me que esta pode ser a via mais curta para conseguir uma úlcera gástrica. Todavia, gosto de pesquisar na imprensa, o aumento do perfil de uma ou outra figura política, as notícias que passam a um primeiro plano ou ao esquecimento e, sobretudo, aquelas missões tão reiterativas que ostentam nossos diários.

Não passou por alto, por exemplo, que os jornais insistem que as dificuldades econômicas e nos serviços são fruto da indisciplina social, o vandalismo e o descontrole. Afirmação esta que deixa isenta de responsabilidade toda a alta hierarquia do país ou ao modelo econômico e político imperante. Os problemas existem, esclarecem, porque não sabemos aplicar o guia, não pela inviabilidade da “obra” no cenário atual.

Os órgãos policiais se lançaram na busca por estes “indisciplinados” e vândalos, e em uma das investidas levaram os “papeleiros (buzos)” que coletam matéria prima, comida e objetos no lixo. Sem estes que recolhem as garrafas de plástico, os papelões e os dejetos metálicos dos lixões, estes objetos recicláveis se perderiam em um desperdício que não concorda com nossos limitados recursos. Estas mãos que se fundem nos latões pestilentos fazem, de forma independente, o que as instruções não conseguiram organizar em seu centralismo.

Mas os “papeleiros”, segundo esta nova ofensiva, dão uma má imagem à cidade. Podem ser capturados pela máquina fotográfica de um turista e romper o imaginário argumento de que “em Cuba ninguém revira o lixo”. Sua existência fala de sem teto, de paupérrimas condições, de ilegais que preferem “buscar lixo na grande cidade, que trabalhar por um salário simbólico no campo”.

O jornal Granma fala assim do castigo para “... os que recolhiam dejetos sólidos”, ao mesmo tempo em que ameaça com a expulsão da capital para aqueles que ostentam a dupla categoria de “papeleiro” e “ilegal”.

O PoPa acha que é normal a presença de papeleiros em qualquer cidade do mundo. Talvez Tókio esteja livre deste problema, mais por conta de sua organização que por falta de miseráveis. Mas o que surpreende, é que o sistema cubano está a perseguir este tipo de pessoas. Não é a única fonte sobre este assunto. Outros blogs cubanos já vinham falando do problema causado pela falta dos "buzos", que é o acúmulo de lixo, cuja competência do governo em retirá-lo não estaria sendo suficiente, uma vez que seu volume aumentou desde a proibição da ação dos "buzos". Outro aspecto interessante que muitos não sabem à respeito de Cuba, fala dos "ilegais". São ilegais os imigrantes de outras partes da ilha para Havana. Cubanos do interior não podem morar na sua capital... estranho isso, não?

Imagem: 1. fragmento do Granma sobre a reportagem. 2. Um container de lixo, em Havana (do site "sin EVAsion)

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