sexta-feira, 11 de junho de 2010

O PIB realmente cresceu?

O PoPa não é economista, mas desconfia de números muito fora da realidade. Este artigo mostra um pouco do que aconteceu e do que propagandearam.

Boa leitura!

O “Pibão” Gabola 

Em certos momentos, ao ler as principais manchetes do noticiário nacional, lembro dos anos de chumbo. Naquele período entre os governos Costa e Silva e Médici, ao mesmo tempo em que a ditadura baixava o cacete em quem ousasse questionar a “revolução”, a propaganda ufanista poluía nossos ouvidos, olhos e corações (dos mais bobões). Slogans como “Esse é um País que vai para Frente” ou “Ninguém Segura a Juventude do Brasil” ocupavam lugar de destaque nos outdoors das cidades e no vidro traseiro dos carros. E ai de quem fizesse alguma piadinha sobre tais máximas!

Voltando aos dias atuais, o aumento do PIB do primeiro trimestre de 2010 é vendido como o grande golaço do governo federal nesses dias que antecedem a Copa do Mundo. Mas vamos aos fatos: se os números do IBGE estiverem corretos, é inegável que o produto interno bruto brasileiro registrou a expansão de 8,95% entre janeiro e março desse ano e o mesmo período de 2009.

Porém, tal verdade tem lá seu grau de miopia. Afinal, a comparação feita é em relação a um dos períodos de pior desempenho da economia nacional - 1º trimestre de 2009 – quando o PIB caiu 2,4%. E crescer muito a partir de uma base deprimida é sempre mais fácil, na medida em que a infra-estrutura está lá, prontinha para ser novamente usada depois de uma fase de ociosidade.

Para facilitar a compreensão do leitor, façamos a seguinte analogia. Imagine que um sujeito está construindo uma estrada no meio do mato. Em um determinado momento ele se dá conta de que esqueceu a marmita em um local 2,4 km atrás. Volta, pega o alimento, retorna à frente de trabalho e continua a montar a rodovia. Em seu relatório de trabalho, ao preencher o indicador de desempenho ele declara: hoje avancei 9,8 km. Na verdade, ele omitiu que percorreu uma parte do caminho por um pedaço de estrada já construído (os 2,4% do PIB que foram perdidos no 1º trimestre de 2009). Seu avanço, então, foi de 7,4km. Sujeitinho malandro, hein?

Agora, voltando à economia pura, a verdade mais científica mostra que a economia brasileira cresceu 6,34% entre o primeiro trimestre de 2008 e os três primeiros meses de 2010. Isso dá uma média anual de 3,12%, o que não tem nada de espetacular. Crescimento chinês? Só se esse percentual dos dois anos chegasse a 18,7% (média anual de 8,97%). Sem rodeios, a gabolice da propaganda oficial inflou em quase três vezes o resultado do desempenho econômico brasileiro, ao comparar a nossa performance com a chinesa. Em tempo: no período de real relevância para comparação (primeiro trimestre de 2008 frente a igual período de 2010), a indústria de transformação brasileira cresceu apenas 1,78%; e a agricultura recuou 0,22%. O crescimento chinês só foi verdade na intermediação financeira (bancos), com expansão de 18,57%. A arrecadação de impostos sobre produtos também foi boa: aumento de 8,57%. Ou seja, estamos falando de um crescimento que não interessa à maioria da sociedade civil brasileira.

Mas o mais sério disso tudo é que o resultado, diríamos, impreciso, do crescimento do PIB de 9,8% deve embasar o Conselho de Política Monetária a subirem os juros básicos brasileiros (SELIC) acima da barreira dos 10% ao ano, enquanto na metade dos estados do país a produção industrial já começa a cair.

O “Pibão Gabola”, então, é uma excelente peça de marketing. Fiquemos todos eufóricos. Vamos saborear o momento. Mas rápido! Pois o horizonte mostra a formação de nuvens tempestuosas. Esse é assunto para outra conversa.
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Fonte: Economista Eduardo S. Starosta
eduardostarosta@uol.com.br

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