sexta-feira, 30 de maio de 2008

Minc, o falador

Ainda na Folha (o PoPa adverte: ler jornais faz mal à saúde): O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou hoje que o governo federal vai destinar R$ 1 bilhão para recomposição de reservas legais na Amazônia. Na prática, o governo vai conceder crédito, a juros de 4% ao ano aos produtores que desmataram além do permitido pela legislação e são obrigados a recompor a floresta.

"Uma coisa é você obrigar, outra coisa é você dar meios para, essa é a verdadeira questão. É uma obrigação legal. Mas agora os recursos vão garantir que ela seja cumprida. É o cumpra-se da reserva legal", disse Minc no 1º Fórum de Governadores da Amazônia Legal.

Sacaram, né? Vamos dar grana subsidiada para quem desmatou... e, suprema piada, vão ser obrigados a recompor a floresta...

Sacrifícios?

O PoPa anda meio sem saco para política e afins. Mas hoje leu a Folha: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (30) que fará o que for preciso para evitar a volta da inflação. "Tenham certeza que farei qualquer sacrifício, seja remédio amargo (...). Farei qualquer coisa país para não permitir que a inflação volte, porque, quando voltar, vai quebrar é o bolso do povo pobre, trabalhador. Nós, do governo, vamos fazer o sacrifício que tivermos que fazer para manter uma política fiscal responsável".

PQP! Se é para fazer sacrifício, corta uns 20 ministérios, tira uns 500 aspones e reduz drasticamente a máquina pública federal, que consome toda a nossa grana e nada dá em troca. Ao contrário... Pô, presidente! Que piada [de extremo mau gosto]!

domingo, 18 de maio de 2008

Em defesa de doentes!

Pois o improvável aconteceu: Uma ong norteamericana descobriu que várias entidades de defesa de doentes recebem recursos financeiros das indústrias farmacêuticas. E assinaram uma petição contra a quebra de patentes de medicamentos. Entre estas, pelo menos nove são brasileiras.

À Folha, as organizações de pacientes confirmam que recebem recursos da indústria farmacêutica, mas dizem que essa relação não atrapalha sua independência. A indústria farmacêutica, por sua vez, diz que não vê conflito de interesses entre o fato de associações serem financiadas por laboratórios e, ao mesmo tempo, apoiarem causas defendidas, como a questão das patentes.

Afinal, este povo representa quem, mesmo?

Resta saber se estas ongs brasileiras também não recebem "algum" do governo...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A praga do politicamente correto...

Pois lendo o Jornal do Carro, do Estadão, o PoPa viu esta maravilha aí. O calhambeque do Roberto Carlos, restaurado pelo Emerson Fittipaldi. Claro que o PoPa tem algumas restrições ao que foi feito neste Ford, modelo T, 1922 (o PoPa pensava ser um 1929), como aquelas rodas horrorosas, a descarga sobre o estribo e a cor (argh!). Mas gosto é gosto! O que mais impressionou o PoPa - e por isso este post - foram os comentários à notícia: alguns, querendo que o dono faça uma doação do carro para caridade; outros afirmando que eles gastam dinheiro sem pensar nos pobres... é a praga do politicamente correto, interferindo até mesmo nas relações pessoais dos famosos.

Depois de fazer este post, o PoPa andou pesquisando para saber se encontrava alguma coisa mais deste calhambeque. Ele foi matéria do Fantástico e tem um filmezinho no G1, onde eles falam que o calhambeque é realmente 1929 (o PoPa ainda conhece um pouquinho de carros antigos...).

Menos impuestos, menos pobreza

O PoPa viu no "La Alharaca", este texto que saiu no editorial do El Mercurio, do Chile (leia o original, na íntegra, clicando aqui). Pescou apenas algumas partes que são comuns a todos os países ditos socialistas, mas recomenda a leitura do texto integral.

A rigor, os impostos são um roubo aos trabalhadores, que se vem obrigados a pagá-los, ainda que sejam muito mal usados. Isto é cada vez mais comum em nosso meio e parece não ter remédio, pelo enfoque dogmático clássico do socialismo, que considera pecado os gastos pessoais livres: é o Estado que sabe o que nos convém; nós, cidadãos, somos bobos, porque não tivemos esta revelação "de classe" que ilumina aos marxistas e seus derivados...

...A flexibilidade laboral e produtiva é a chave para a erradicação da pobreza, o mesmo que incentivar a benemerência e as sociedades sem fins lucrativos. Mas os socialistas querem estatizar tudo, desconfiam da liberdade e são totalitários; para eles seria melhor terminar como a URSS e não como os Estados Unidos...

...Atrevo-me a sustentar que congelar o gasto público aumentaria nosso bem-estar.

sábado, 10 de maio de 2008

Esperteza paraguaia

Lugo agora quer pagar a metade da dívida de Itaipu. O PoPa ficou impressionado com a notícia de que o novo governante quer pagar metade da dívida QUE FALTA pagar, ignorando os mais de 30 anos de pagamento brasileiro... e diz que tem grana internacional - 10 bilhões de dólares - para fazer isto! Parece que ele está querendo privatizar - internacionalizar, mesmo - a metade da usina que custou tanto sacrifício ao povo brasileiro.

Esperto, este Lugo... se está tão fácil assim conseguir grana internacional, por que ele não consegue alguma para melhorar o nível de vida e educação de sua gente?

Após a publicação deste tópico, o PoPa, alertado pelo Rayol, foi pesquisar mais um pouco sobre o tratado de Itaipu e descobriu que, realmente, o Paraguai paga a sua parcela da dívida através de descontos sobre o que recebe, que é U$45,00/MW. Esta dívida vai correr até 2023, em condições excepcionais de encargos. Se o Paraguai receber grana internacional para o pagamento do que falta, provavelmente - tendo em vista seu histórico - vai ter encargos superiores a estes e, dependendo de como for feito, o Brasil terá que fazer sua cobrança direta ao Paraguai. Quem garante o pagamento? É bom lembrar que Lugo quer dar a sua metade de Itaipu para garantir o financiamento.

Como está atualmente, é só descontar do valor devido - e isto que Lugo, aparentemente, não quer. Se Lugo - ou qualquer outro que vier depois - achar que deve atrasar alguns pagamentos, de quem os banqueiros internacionais vão cobrar? O Brasil, para evitar ingerência internacional em Itaipu, precisará honrar esta dívida. É fácil prever que os tais bancos internacionais que estão com a grana pronta para dar à Lugo, irão querer, além da hipoteca de metade da hidrelétrica, o aval da empresa Itaipu Binacional. E aí, como faremos para cobrar do "irmão pobre"?

É preciso salientar, também, que nem todo o dinheiro utilizado nesta usina é de origem internacional. Muito foi feito com recursos do BNDES, cuja principal origem é o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Dinheiro que deixou de ser aplicado em empresas brasileiras para promover emprego e renda.

Vejam que mesmo considerando este desconto para o pagamento da dívida, a situação do Paraguai é extremamente confortável. É como se você comprasse uma enorme casa, fizesse um financiamento e desse metade dela para um vizinho morar. Aí, você paga o financiamento, promove a manutenção da mesma e paga um aluguel maior que o valor do financiamento para usar a garagem da casa...

O Paraguai foi incompetente para usar esta imensa quantidade de energia para promover seu próprio desenvolvimento.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

VCP e a região

Duas cidades continuam no páreo para conquistar a milionária fábrica de celulose da Votorantin. Arroio Grande e Rio Grande podem ter este privilégio. O PoPa torce por Arroio Grande, pois Rio Grande é bem industrializada, não tem problemas de emprego, mas já enfrenta sérios problemas de espaço geográfico. A descentralização industrial é uma meta a ser perseguida sempre por todas as regiões, permitindo o desenvolvimento mais harmônico e socialmente mais correto. E poderemos ver, finalmente, a navegação na Lagoa Mirim ter um salto de qualidade e tecnologia.

Aos que torcem o nariz para este tipo de indústria, é bom lembrar que a Botnia, no Uruguai, está produzindo a pleno, sem contaminação do rio ou do ar, ao contrário do que os argentinos esperavam. Na verdade, a grande briga foi ver a fábrica do outro lado do rio...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Capital do Pampa

Não, o PoPa não está falando de Porto Alegre e de nenhuma cidade da Metade Sul. A cidade que merece este título está lá nas margens do Rio da Prata e é, com absoluta certeza, a Capital do Pampa. Nesta bela cidade, ainda é possível encontrar um pouco de tranqüilidade, um pouco de segurança e muita, mas muita simpatia dos nativos. É uma cidade de muitos monumentos, a maioria dedicados a personagens que marcaram época nos pampas, incluindo aí, alguns brasileiros, como Gumercindo e Aparício Savaiva (ou Saravia, como eles chamam).

Durante muito tempo, esta foi a capital de muitos gaúchos, praticamente impedidos de ir à Porto Alegre, pelas dificuldades de acesso. Santa Vitória, por exemplo, ficava sitiada quando a antiga estrada do inferno era o único acesso à Pelotas e ao resto do Brasil. Mais fácil ir até Montevidéu que ir à Pelotas... Mesma coisa Bagé, Santana do Livramento e tantas outras cidades da parte brasileira do Pampa.

Imagem: por do sol em Montevidéu - e uma das únicas pichações que o PoPa encontrou por lá...

sábado, 3 de maio de 2008

Uma blogueira nas 100 mais da Time

Yoani Sanchéz está entre as cem pessoas mais influentes de 2007, segundo a revista Time. Mas o que mais impressionou o PoPa foram os comentários colocados em seu post. Yoani não faz nenhum tipo de contra-argumentação aos comentários e não faz moderação. É fácil entender porque.

Entre estes, um escrito em português diz: "Yoani, a revista Time não está a seviço dos excluídos do mundo. A Time é o Grama do Império Americano. Cuidado para não estar sendo usada contra o povo cubano. Viva a revolução cubana, viva Che, Viva Fidel, viva Raul". Entenderam? Compara o Granma (que ele não sabe direito o nome...) à Time - mas não cita que é o único da ilha - e dá vivas à revolução, que deve conhecer só de longe... Faz lembrar outro post de Yoani, onde ela diz que pessoas de outras nações querem que ela viva a utopia deles.

Brava Yoani, mereces estas distinções, por fazer o que muita gente grande não tem coragem!

Fiscais do Lobão

Lobão, que é do PMDB, quer ser um novo Sarney? Preparem-se para os "fiscais do Lobão"! O PoPa leu, na ZH de hoje, que o ministro quer punir postos de combustíveis que repassarem o aumento ocorrido na refinaria. É, o ministro está esquecendo de um pequeno detalhe, que é fundamental para o capitalismo: lucro e, antes dele, sobrevivência do negócio. Se o governo não queria que os preços dos combustíveis aumentassem, que desse um jeito de segurá-lo, por exemplo, reduzindo a CID - pelo menos temporariamente. Ou usando do poder que tem face o custo menor de produção que de importação. Por que atrelar sempre o valor interno ao externo, já que temos um bom percentual de produção própria? E, com o dólar baixando constantemente, por que o reajuste na refinaria?

Lobão é ministro, logo, fala pelo governo. Estará algum tipo de ação anti-capital sendo gerada dentro do governo do pt? Ou é só um delírio isolado? ?Depois da ameaça de proibir a exportação de arroz, feita pelo ministro da agricultura, vem este outro ministro e fala esta bobagem. Estranho, muito estranho!

O pt, lembrem-se, foi violentamente contra o Plano Real. A seguir-se as idéias deste partido, quando oposição, estaríamos isolados do mundo, com uma moratória vigente e sabe-se lá que tipo de vida os brasileiros estariam tendo. Nosso comércio internacional estaria limitado a alguns países africanos e latino-americanos. E Lpt não teria sido reeleito...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Nem tudo é Pampa

A Metade Sul do RS é pouco conhecida pela maioria dos gaúchos, principalmente aquela estreita faixa de terra que fica espremida entre o mar e a Lagoa dos Patos. Lá, isolados do mundo pela precariedade da infraestrutura, vivem muitos gaúchos. Para se ter acesso a esta região, somente através da "estrada do inferno" ou das balsas que partem de Rio Grande. Mas vale a pena o esforço de conhecer este pedaço de Rio Grande! A foto acima, é de um trecho próximo da Lagoa do Peixe, em Tavares.

Aternativamente à "estrada do inferno", pode-se curtir esta região viajando pela orla marítima. Muitos restos de embarcações podem ser vistos por ali, demonstrando que esta não é uma costa pacífica, apesar da aparente mansidão do mar.

Infelizmente, também é comum encontrar animais marinhos mortos por barcos pesqueiros (vejam na foto ao lado o quão perto eles chegam da margem - o que é proibido), como tartarugas marinhas, baleias e golfinhos. Estes animais causam estragos nas redes e são abatidos a marretadas...

Vejam na foto abaixo, uma tartaruga marinha adulta. Como estava muito próxima do local onde os barcos pesqueiros catarinenses costumam estar, provavelmente foi abatida por um deles. Um magnífico animal. Este tipo de ação, muito mais danosa que o plantio tecnicamente correto de eucaliptos, não consegue ser controlado, pois a patrulha ambiental não dispõe de recursos suficientes para tanto.
As fotos acima foram tiradas pelo PoPa em 2005. O PoPa esteve lá outras vezes e, em 2004, ouviu alguns pescadores residentes na Lagoa do Peixe. Foi um ano de grande estiagem e a lagoa estava secando. Fiscais do Ibama permaneceram no local impedindo que os pescadores pescassem seu camarão antes do período ditado pelas regras escritas - mas que nada tem a ver com a realidade. Esperaram até a lagoa secar completamente, matando - obviamente - todos os peixes e crustáceos que lá se encontravam. E foram embora em suas LX200, deixando a pobreza por conta de quem sempre viveu por ali... A imagem abaixo não é de um deserto, mas da Lagoa do Peixe, totalmente seca. Uma das ações sugeridas pelos pescadores e que teria viabilidade técnica e apoio de arrozeiros locais, seria bombear água do mar para dentro da lagoa. Isto foi impedido pelos bioburocratas, alegando que iria chover...

A Lagoa do Peixe, na verdade, é um grande "banhado" de água salgada. Durante o inverno, a água do mar entra na lagoa, trazendo nutrientes, peixes, alevinos e larvas de camarão e outros crustáceos. Esta lagoa não passa de 50cm de profundidade, o que mantém as águas quentes durante o verão. Depois, eventualmente, esta ligação com o mar pode ser cortada e a Lagoa pode até secar, como aconteceu naquele ano. É um ponto importante no trajeto das aves migratórias que fazem um festival todos os anos. Mas estes pescadores sempre viveram por ali, respeitando a "sua" lagoa. Ocorre que muitas empresas de peixes vinham com caminhões e pescavam o que queriam. Isto, claro, tinha que ser contido, mas os locais?

Imagens: acervo pessoal do PoPa. Usem, mas citem a fonte

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Carta contra o rascialismo

O texto é grande, mas é preciso a leitura atenta! Foi assinado por 130 notórios brasileiros e está no blog do Reinaldo Azevedo. Como muitos dos dez leitores do PoPa não aparecem por lá, ele achou importante este comunicado!

Excelentíssimo Sr. Ministro,

Duas ações diretas de inconstitucionalidade (ADI 3.330 e ADI 3.197) promovidas pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), a primeira contra o programa PROUNI e a segunda contra a lei de cotas nos concursos vestibulares das universidades estaduais do Rio de Janeiro, serão apreciadas proximamente pelo STF. Os julgamentos terão significado histórico, pois podem criar jurisprudência sobre a constitucionalidade de cotas raciais não só para o financiamento de cursos no ensino superior particular e para concursos de ingresso no ensino superior público como para concursos públicos em geral. Mais ainda: os julgamentos têm o potencial de enviar uma mensagem decisiva sobre a constitucionalidade da produção de leis raciais.
Nós, intelectuais da sociedade civil, sindicalistas, empresários e ativistas dos movimentos negros e outros movimentos sociais, dirigimo-nos respeitosamente aos Juízes da corte mais alta, que recebeu do povo constituinte a prerrogativa de guardiã da Constituição, para oferecer argumentos contrários à admissão de cotas raciais na ordem política e jurídica da República.

Na seara do que Vossas Excelências dominam, apontamos a Constituição Federal, no seu Artigo 19, que estabelece: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. O Artigo 208 dispõe que: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Alinhada com os princípios e garantias da Constituição Federal, a Constituição Estadual do Rio de Janeiro, no seu Artigo 9, § 1º, determina que: “Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado civil, trabalho rural ou urbano, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou mental, por ter cumprido pena nem por qualquer particularidade ou condição”.

As palavras da Lei emanam de uma tradição brasileira, que cumpre exatos 120 anos desde a Abolição da escravidão, de não dar amparo a leis e políticas raciais. No intuito de justificar o rompimento dessa tradição, os proponentes das cotas raciais sustentam que o princípio da igualdade de todos perante a lei exige tratar desigualmente os desiguais. Ritualmente, eles citam a Oração aos Moços, na qual Rui Barbosa, inspirado em Aristóteles, explica que: “A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade.” O método de tratar desigualmente os desiguais, a que se refere, é aquele aplicado, com justiça, em campos tão distintos quanto o sistema tributário, por meio da tributação progressiva, e as políticas sociais de transferência de renda. Mas a sua invocação para sustentar leis raciais não é mais que um sofisma.

Os concursos vestibulares, pelos quais se dá o ingresso no ensino superior de qualidade “segundo a capacidade de cada um”, não são promotores de desigualdades, mas se realizam no terreno semeado por desigualdades sociais prévias. A pobreza no Brasil tem todas as cores. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2006, entre 43 milhões de pessoas de 18 a 30 anos de idade, 12,9 milhões tinham renda familiar per capita de meio salário mínimo ou menos. Neste grupo mais pobre, 30% classificavam-se a si mesmos como “brancos”, 9% como “pretos”, e 60% como “pardos”. Desses 12,9 milhões, apenas 21% dos “brancos” e 16% dos “pretos” e “pardos” haviam completado o ensino médio, mas muito poucos, de qualquer cor, continuaram estudando depois disso. Basicamente, são diferenças de renda, com tudo que vem associado a elas, e não de cor, que limitam o acesso ao ensino superior.

Apresentadas como maneira de reduzir as desigualdades sociais, as cotas raciais não contribuem para isso, ocultam uma realidade trágica e desviam as atenções dos desafios imensos e das urgências, sociais e educacionais, com os quais se defronta a nação. E, contudo, mesmo no universo menor dos jovens que têm a oportunidade de almejar o ensino superior de qualidade, as cotas raciais não promovem a igualdade, mas apenas acentuam desigualdades prévias ou produzem novas desigualdades:
 As cotas raciais exclusivas, como aplicadas, entre outras, na Universidade de Brasília (UnB), proporcionam a um candidato definido como “negro” a oportunidade de ingresso por menor número de pontos que um candidato definido como “branco”, mesmo se o primeiro provém de família de alta renda e cursou colégios particulares de excelência e o segundo provém de família de baixa renda e cursou escolas públicas arruinadas. No fim, o sistema concede um privilégio para candidatos de classe média arbitrariamente classificados como “negros”.
 As cotas raciais embutidas no interior de cotas para candidatos de escolas públicas, como aplicadas, entre outras, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), separam os alunos proveniente de famílias com faixas de renda semelhantes em dois grupos “raciais” polares, gerando uma desigualdade “natural” num meio caracterizado pela igualdade social. O seu resultado previsível é oferecer privilégios para candidatos definidos arbitrariamente como “negros” que cursaram escolas públicas de melhor qualidade, em detrimento de seus colegas definidos como “brancos” e de todos os alunos de escolas públicas de pior qualidade.
A PNAD de 2006 informa que 9,41 milhões de estudantes cursavam o ensino médio, mas apenas 5,87 milhões freqüentavam o ensino superior, dos quais só uma minoria de 1,44 milhão estavam matriculados em instituições superiores públicas. As leis de cotas raciais não alteram em nada esse quadro e não proporcionam inclusão social. Elas apenas selecionam “vencedores” e “perdedores”, com base num critério altamente subjetivo e intrinsecamente injusto, abrindo cicatrizes profundas na personalidade dos jovens, naquele momento de extrema fragilidade que significa a disputa, ainda imaturos, por uma vaga que lhes garanta o futuro.

Queremos um Brasil onde seus cidadãos possam celebrar suas múltiplas origens, que se plasmam na criação de uma cultura nacional aberta e tolerante, no lugar de sermos obrigados a escolher e valorizar uma única ancestralidade em detrimento das outras. O que nos mobiliza não é o combate à doutrina de ações afirmativas, quando entendidas como esforço para cumprir as Declarações Preambulares da Constituição, contribuindo na redução das desigualdades sociais, mas a manipulação dessa doutrina com o propósito de racializar a vida social no país. As leis que oferecem oportunidades de emprego a deficientes físicos e que concedem cotas a mulheres nos partidos políticos são invocadas como precedentes para sustentar a admissibilidade jurídica de leis raciais. Esse segundo sofisma é ainda mais grave, pois conduz à naturalização das raças. Afinal, todos sabemos quem são as mulheres e os deficientes físicos, mas a definição e delimitação de grupos raciais pelo Estado é um empreendimento político que tem como ponto de partida a negação daquilo que nos explicam os cientistas.

Raças humanas não existem. A genética comprovou que as diferenças icônicas das chamadas “raças” humanas são características físicas superficiais, que dependem de parcela ínfima dos 25 mil genes estimados do genoma humano. A cor da pele, uma adaptação evolutiva aos níveis de radiação ultravioleta vigentes em diferentes áreas do mundo, é expressa em menos de 10 genes! Nas palavras do geneticista Sérgio Pena: “O fato assim cientificamente comprovado da inexistência das ‘raças’ deve ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas convicções e atitudes morais Uma postura coerente e desejável seria a construção de uma sociedade desracializada, na qual a singularidade do indivíduo seja valorizada e celebrada. Temos de assimilar a noção de que a única divisão biologicamente coerente da espécie humana é em bilhões de indivíduos, e não em um punhado de ‘raças’.” (“Receita para uma humanidade desracializada”, Ciência Hoje Online, setembro de 2006).

Não foi a existência de raças que gerou o racismo, mas o racismo que fabricou a crença em raças. O “racismo científico” do século XIX acompanhou a expansão imperial européia na África e na Ásia, erguendo um pilar “científico” de sustentação da ideologia da “missão civilizatória” dos europeus, que foi expressa celebremente como o “fardo do homem branco”.

Os poderes coloniais, para separar na lei os colonizadores dos nativos, distinguiram também os nativos entre si e inscreveram essas distinções nos censos. A distribuição de privilégios segundo critérios etno-raciais inculcou a raça nas consciências e na vida política, semeando tensões e gestando conflitos que ainda perduram. Na África do Sul, o sistema do apartheid separou os brancos dos demais e foi adiante, na sua lógica implacável, fragmentando todos os “não-brancos” em grupos étnicos cuidadosamente delimitados. Em Ruanda, no Quênia e em tantos outros lugares, os africanos foram submetidos a meticulosas classificações étnicas, que determinaram acessos diferenciados aos serviços e empregos públicos. A produção política da raça é um ato político que não demanda diferenças de cor da pele.
O racismo contamina profundamente as sociedades quando a lei sinaliza às pessoas que elas pertencem a determinado grupo racial – e que seus direitos são afetados por esse critério de pertinência de raça. Nos Estados Unidos, modelo por excelência das políticas de cotas raciais, a abolição da escravidão foi seguida pela produção de leis raciais baseadas na regra da “gota de sangue única”. Essa regra, que é a negação da mestiçagem biológica e cultural, propiciou a divisão da sociedade em guetos legais, sociais, culturais e espaciais. De acordo com ela, as pessoas são, irrevogavelmente, “brancas” ou “negras”. Eis aí a inspiração das leis de cotas raciais no Brasil.

“Eu tenho o sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação na qual não serão julgados pela cor da sua pele mas pelo conteúdo de seu caráter”. Há 45 anos, em agosto, Martin Luther King abriu um horizonte alternativo para os norte-americanos, ancorando-o no “sonho americano” e no princípio político da igualdade de todos perante a lei, sobre o qual foi fundada a nação. Mas o desenvolvimento dessa visão pós-racial foi interrompido pelas políticas racialistas que, a pretexto de reparar injustiças, beberam na fonte envenenada da regra da “gota de sangue única”. De lá para cá, como documenta extensamente Thomas Sowell em Ação afirmativa ao redor do mundo: um estudo empírico (Univer Cidade, 2005), as cotas raciais nos Estados Unidos não contribuíram em nada para reduzir desigualdades mas aprofundaram o cisma racial que marca como ferro em brasa a sociedade norte-americana.

“É um impasse racial no qual estamos presos há muitos anos”, na constatação do senador Barack Obama, em seu discurso pronunciado a 18 de março, que retoma o fio perdido depois do assassinato de Martin Luther King. O “impasse” não será superado tão cedo, em virtude da lógica intrínseca das leis raciais. Como assinalou Sowell, com base em exemplos de inúmeros países, a distribuição de privilégios segundo critérios etno-raciais tende a retroalimentar as percepções racializadas da sociedade – e em torno dessas percepções articulam-se carreiras políticas e grupos organizados de pressão.

Mesmo assim, algo se move nos Estados Unidos. Há pouco, repercutindo um desencanto social bastante generalizado com o racialismo, a Suprema Corte declarou inconstitucionais as políticas educacionais baseadas na aplicação de rótulos raciais às pessoas. No seu argumento, o presidente da Corte, juiz John G. Roberts Jr., escreveu que “o caminho para acabar com a discriminação baseada na raça é acabar com a discriminação baseada na raça”. Há um sentido claro na reiteração: a inversão do sinal da discriminação consagra a raça no domínio da lei, destruindo o princípio da cidadania.

Naquele julgamento, o juiz Anthony Kennedy alinhou-se com a maioria, mas proferiu um voto separado que contém o seguinte protesto: “Quem exatamente é branco e quem é não-branco? Ser forçado a viver sob um rótulo racial oficial é inconsistente com a dignidade dos indivíduos na nossa sociedade. E é um rótulo que um indivíduo é impotente para mudar!”. Nos censos do IBGE, as informações de raça/cor abrigam a mestiçagem e recebem tratamento populacional. As leis raciais no Brasil são algo muito diferente: elas têm o propósito de colar “um rótulo que um indivíduo é impotente para mudar” e, no caso das cotas em concursos vestibulares, associam nominalmente cada jovem candidato a uma das duas categorias “raciais” polares, impondo-lhes uma irrecorrível identidade oficial.

O juiz Kennedy foi adiante e, reconhecendo a diferença entre a doutrina de ações afirmativas e as políticas de cotas raciais, sustentou a legalidade de iniciativas voltadas para a promoção ativa da igualdade que não distinguem os indivíduos segundo rótulos raciais. Reportando-se à realidade norte-americana da persistência dos guetos, ele mencionou, entre outras, a seleção de áreas residenciais racialmente segregadas para os investimentos prioritários em educação pública.

No Brasil, difunde-se a promessa sedutora de redução gratuita das desigualdades por meio de cotas raciais para ingresso nas universidades. Nada pode ser mais falso: as cotas raciais proporcionam privilégios a uma ínfima minoria de estudantes de classe média e conservam intacta, atrás de seu manto falsamente inclusivo, uma estrutura de ensino público arruinada. Há um programa inteiro de restauração da educação pública a se realizar, que exige políticas adequadas e vultosos investimentos. É preciso elevar o padrão geral do ensino mas, sobretudo, romper o abismo entre as escolas de qualidade, quase sempre situadas em bairros de classe média, e as escolas devastadas das periferias urbanas, das favelas e do meio rural. O direcionamento prioritário de novos recursos para esses espaços de pobreza beneficiaria jovens de baixa renda de todos os tons de pele – e, certamente, uma grande parcela daqueles que se declaram “pardos” e “pretos”.

A meta nacional deveria ser proporcionar a todos um ensino básico de qualidade e oportunidades verdadeiras de acesso à universidade. Mas há iniciativas a serem adotadas, imediatamente, em favor de jovens de baixa renda de todas as cores que chegam aos umbrais do ensino superior, como a oferta de cursos preparatórios gratuitos e a eliminação das taxas de inscrição nos exames vestibulares das universidades públicas. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Programa de Cursinhos Pré-Vestibulares Gratuitos, destinado a alunos egressos de escolas públicas, atendeu em 2007 a 3.714 jovens, dos quais 1.050 foram aprovados em concursos vestibulares, sendo 707 em universidades públicas. Medidas como essa, que não distinguem os indivíduos segundo critérios raciais abomináveis, têm endereço social certo e contribuem efetivamente para a amenização das desigualdades.

A sociedade brasileira não está livre da chaga do racismo, algo que é evidente no cotidiano das pessoas com tom de pele menos claro, em especial entre os jovens de baixa renda. A cor conta, ilegal e desgraçadamente, em incontáveis processos de admissão de funcionários. A discriminação se manifesta de múltiplas formas, como por exemplo na hora das incursões policiais em bairros periféricos ou nos padrões de aplicação de ilegais mandados de busca coletivos em áreas de favelas.
Por certo existe preconceito racial e racismo no Brasil, mas o Brasil não é uma nação racista. Depois da Abolição, no lugar da regra da “gota de sangue única”, a nação brasileira elaborou uma identidade amparada na idéia anti-racista de mestiçagem e produziu leis que criminalizam o racismo. Há sete décadas, a República não conhece movimentos racistas organizados ou expressões significativa de ódio racial. O preconceito de raça, acuado, refugiou-se em expressões oblíquas envergonhadas, temendo assomar à superfície. A condição subterrânea do preconceito é um atestado de que há algo de muito positivo na identidade nacional brasileira, não uma prova de nosso fracasso histórico.

“Quem exatamente é branco e quem é não-branco?” – a indagação do juiz Kennedy provoca algum espanto nos Estados Unidos, onde quase todos imaginam conhecer a identidade “racial” de cada um, mas parece óbvia aos ouvidos dos brasileiros. Entre nós, casamentos interraciais não são incomuns e a segregação residencial é um fenômeno basicamente ligado à renda, não à cor da pele. Os brasileiros tendem a borrar as fronteiras “raciais”, tanto na prática da mestiçagem quanto no imaginário da identidade, o que se verifica pelo substancial e progressivo incremento censitário dos “pardos”, que saltaram de 21% no Censo de 1940 para 43% na PNAD de 2006, e pela paralela redução dos “brancos” (de 63% para 49%) ou “pretos” (de 15% para 7%).

A percepção da mestiçagem, que impregna profundamente os brasileiros, de certa forma reflete realidades comprovadas pelos estudos genéticos. Uma investigação já célebre sobre a ancestralidade de brasileiros classificados censitariamente como “brancos”, conduzida por Sérgio Pena e sua equipe da Universidade Federal de Minas Gerais, comprovou cientificamente a extensão de nossas miscigenações. “Em resumo, estes estudos filogeográficos com brasileiros brancos revelaram que a imensa maioria das patrilinhagens é européia, enquanto a maioria das matrilinhagens (mais de 60%) é ameríndia ou africana” (PENA, S. “Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?”, Estudos Avançados 18 (50), 2004). Especificamente, a análise do DNA mitocondrial, que serve como marcador de ancestralidades maternas, mostrou que 33% das linhagens eram de origem ameríndia, 28% de origem africana e 39% de origem européia.

Os estudos de marcadores de DNA permitem concluir que, em 2000, existiam cerca de 28 milhões de afrodescendentes entre os 90,6 milhões de brasileiros que se declaravam “brancos” e que, entre os 76,4 milhões que se declaravam “pardos” ou “pretos”, 20% não tinham ancestralidade africana. Não é preciso ir adiante para perceber que não é legítimo associar cores de pele a ancestralidades e que as operações de identificação de “negros” com descendentes de escravos e com “afrodescentes” são meros exercícios da imaginação ideológica. Do mesmo modo, a investigação genética evidencia a violência intelectual praticada pela unificação dos grupos censitários “pretos” e “pardos” num suposto grupo racial “negro”.
Mas a violência não se circunscreve à esfera intelectual. As leis de cotas raciais são veículos de uma engenharia política de fabricação ou recriação de raças. Se, individualmente, elas produzem injustiças singulares, socialmente têm o poder de gerar “raças oficiais”, por meio da divisão dos jovens estudantes em duas raças polares. Como, no Brasil, não sabemos quem exatamente é “negro” e quem é “não-negro”, comissões de certificação racial estabelecidas pelas universidades se encarregam de traçar uma fronteira. A linha divisória só se consolida pela validação oficial da autodeclaração dos candidatos, num processo sinistro em que comissões universitárias investigam e deliberam sobre a “raça verdadeira” dos jovens a partir de exames de imagens fotográficas ou de entrevistas identitárias. No fim das contas, isso equivale ao cancelamento do princípio da autodeclaração e sua substituição pela atribuição oficial de identidades raciais.

Na UnB, uma comissão de certificação racial composta por professores e militantes do movimento negro chegou a separar dois irmãos gêmeos idênticos pela fronteira da raça. No Maranhão, produziram-se fenômenos semelhantes. Pelo Brasil afora, os mesmos candidatos foram certificados como “negros” em alguma universidade mas descartados como “brancos” em outra. A proliferação das leis de cotas raciais demanda a produção de uma classificação racial geral e uniforme. Esta é a lógica que conduziu o MEC a implantar declarações raciais nominais e obrigatórias no ato de matrícula de todos os alunos do ensino fundamental do país. O horizonte da trajetória de racialização promovida pelo Estado é o estabelecimento de um carimbo racial compulsório nos documentos de identidade de todos os brasileiros. A história está repleta de barbaridades inomináveis cometidas sobre a base de carimbos raciais oficialmente impostos.

A propaganda cerrada em favor das cotas raciais assegura-nos que os estudantes universitários cotistas exibem desempenho similar ao dos demais. Os dados concernentes ao tema são esparsos, contraditórios e pouco confiáveis. Mas isso é essencialmente irrelevante, pois a crítica informada dos sistemas de cotas nunca afirmou que estudantes cotistas seriam incapazes de acompanhar os cursos superiores ou que sua presença provocaria queda na qualidade das universidades. As cotas raciais não são um distúrbio no ensino superior, mas a face mais visível de uma racialização oficial das relações sociais que ameaça a coesão nacional.

A crença na raça é o artigo de fé do racismo. A fabricação de “raças oficiais” e a distribuição seletiva de privilégios segundo rótulos de raça inocula na circulação sanguínea da sociedade o veneno do racismo, com seu cortejo de rancores e ódios. No Brasil, representaria uma revisão radical de nossa identidade nacional e a renúncia à utopia possível da universalização da cidadania efetiva.

Ao julgar as cotas raciais, o STF não estará deliberando sobre um método de ingresso nas universidades, mas sobre o significado da nação e a natureza da Constituição. Leis raciais não ameaçam uma “elite branca”, conforme esbravejam os racialistas, mas passam uma fronteira brutal no meio da maioria absoluta dos brasileiros. Essa linha divisória atravessaria as salas de aula das escolas públicas, os ônibus que conduzem as pessoas ao trabalho, as ruas e as casas dos bairros pobres. Neste início de terceiro milênio, um Estado racializado estaria dizendo aos cidadãos que a utopia da igualdade fracassou – e que, no seu lugar, o máximo que podemos almejar é uma trégua sempre provisória entre nações separadas pelo precipício intransponível das identidades raciais. É esse mesmo o futuro que queremos?

Assinam 113 personalidades brasileiras. O PoPa não estava no original, mas assina junto, simbolicamente!