Durante muito tempo, a teoria da Metade Sul pobre prosperou no nosso Estado e até mesmo nas hostes do Governo Federal. Para cá foram criados programas especiais, como o Reconversul, a Mesosul e tantos outros. Mas ouvi, de um diretor do Ministério da Integração Nacional, a melhor definição para esta região, de que esta não é uma região pobre, é uma região com a economia estagnada, que já foi a Metade Rica e agora paga pela ineficiência da sua estrutura. Muita diferença de pobreza, pois grande parte das riquezas naturais do Rio Grande do Sul se encontram por aqui, principalmente os minérios e a água. Provavelmente, petróleo também.
Nos minérios, temos as pedras ornamentais, granitos e mármores, situados entre os melhores do mundo. A Tokyo Tower, por exemplo, tem sua fachada totalmente coberta com o granito "Royal Red". O Brasil é importador de oxido de titânio, utilizado na indústria quimica e como importante aditivo para tintas brancas. Pois temos uma das maiores jazidas a céu aberto do mundo na localidade de Bujuru. Uma grande empresa (Paranapanema) tinha um projeto de extração deste mineral, sem danos ao meio-ambiente. Um projeto de 400 milhões de dólares e com intenso uso de mão-de-obra, além de substituir importações. Claro que não conseguiram a licença e Bujuru continua mergulhada no esquecimento...
Estamos sobre uma grande riqueza, portanto.
A Metade Sul está localizada no entorno do paralelo 32, o mesmo do Mediterrâneo. Clima e solo adequados para produção de frutas consumidas na Europa, principalmente. Com a vantagem de produzir na entre-safra deles. Timidamente, estamos aumentando a área de citros, videiras e outras frutas importantes. Mas enquanto o Governo Federal estimula e patrocina a produção do Vale do São Francisco, por aqui apenas algumas iniciativas privadas têm obtido algum resultado e pouco impacto em exportações. A Embrapa Clima Temperado, que deveria dar suporte a estas iniciativas, preocupa-se mais com a produção de pêssegos para a indústria (isto é assunto para outro tópico). E as oliveiras? clima, solo e aptidão nós temos. Pesquisa? he.
Estamos sobre uma grande riqueza, portanto.
A insolação que por aqui temos, nos permite a produção de eucaliptos em tempos recordes. 50 metros cúbicos de madeira por ano, contra 5 ou 6 do principal produtor de madeira do mundo. O que estamos ouvindo falar? produção de cana para álcool! A Embrapa está pesquisando áreas e variedades para produção de álcool!!! Esta é uma atividade que deve ter a atenção dos verdadeiros ecologistas. Mas nada ouvi ou li sobre isto.
Estamos sob uma grande riqueza, portanto.
O pior de tudo isso - e já comentei em outro post - é que a região está se acostumando com a idéia de ser pobre. E agindo como tal, sempre esperando que as ações partam de cima, como esmolas! Somos ricos, gente! Talvez, pobres de espírito...
Alguns afirmam que a pobreza vem do latifúndio, mas temos também a maior concentração de minifúndios da América Latina! Outros falam na falta de representação política. Verdade, mas para se ter esta representação, precisamos de políticos e de uma população esclarecida que não vote nos "melhores". Precisamos empregos básicos para o povo de menor instrução, mas também precisamos de empregos mais qualificados para manter nossos técnicos e universitários por aqui.
A região também ficou sem perspectivas por muitas ações de governo. Lei de fronteira, quebra do Banco Pelotense, maiores incentivos a outras regiões, comércio do Mercosul privilegiando uma troca de produtos industriais (fabricados em Caxias ou São Paulo) por produtos primários, iguais aos que aqui produzimos (arroz, carne, conserva de pêssego, frutas, etc.). É justo que se pressione os governos para auxiliarem a região. Em lugar disso, dê-lhe pau nas empresas que aqui querem se instalar!
Imagem: buggies na "Estrada do Inferno", próximo à Bujuru. Terra esquecida de todos, longe do progresso. Poderia ser diferente hoje, mesmo que jipeiros e buggueiros prefiram este tipo de chão...
4 comentários:
Muita coisa para comentar nesta postagem que coloca o dedo na ferida.
Deixando o passado de lado e olhando para a frente acho que não cabe colocar a culpa no governo. A região é a principal culpada pela sua estagnação. Não sei de local que tenha mais planos de desenvolvimento que a Metade Sul. Não sei também de local que menos tenha trabalhado pelo seu desenvolvimento que a Metade Sul. A Metade Sul já obteve incentivos similares aos do Nordeste. Aproveitou? Claro que não. No Vale do São Francisco opera uma cadeia de produção de frutas onde todos ganham, desde o pequeno produtor ao grande exportador. Um sabe que precisa do outro. Como é que opera a nossa cadeia do pêssego em Pelotas? Cadeia de produção? Claro que não existe cadeia de produção nenhuma. Ninguem tem esta visão de negócio, nem a industria nem o produtor rural.
Esta mentalidade, no meu entender, é um dos principais entraves ao desenvolvimento da Metade Sul.
Na verdade, acredito que a culpa é do governo. De todos os que vieram depois do Império - que também tem culpa na situação atual.
Por que? Com a idéia fixa de afastar os correntinos, o Império doou grandes áreas para fazendeiros, que mantinham exércitos particulares para defender as fronteiras. Depois, foi a história dos trilhos com bitolas diferentes do resto do Brasil, para evitar invasões (por trem!!!). E a proibição de propriedade de terras e indústrias de base por estrangeiros (aliás esta ainda existe, em parte, pois a Stora Enso não conseguiu registrar suas terras).
Tudo isto criou uma mentalidade distorcida nos empresários da região, que sempre esperam a resposta de seus problemas de cima. E não têm uma visão de conjunto (carne, arroz e conservas, só para citar os principais), explorando o produtor e este aceitando placidamente, sem união...
E, sim, a culpa é da região que não rompeu estes grilhões e ainda está estagnada. O que pretendo demonstrar é que existe uma origem para isto, explicando, mesmo que não justifique, a atual situação
Fostes rápido Pobre Pampa, eu ia responder exatamente o que colocastes no primerio parágrafo do teu segundo comentário.
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