A Medicina Humilhada
Milton Simon Pires
Durante toda a última semana a mídia inteira tem se preocupado com o tema dos médicos cubanos. É um desses raros momentos em que se percebe aquela que, em texto anterior, defini como uma das maiores características do brasileiro – a arte de falar sobre o que não sabe. Senão, vejamos: apresentadoras loiras de programas de TV, comentaristas de futebol, prefeitos... Não importa quem você seja mas basta invocar o “sofrimento do povo” para ter o direito de enfurecer-se com a situação de saúde no Brasil.
Houve um tempo em que os medíocres sabiam (mesmo na sua mediocridade) permanecer em silêncio. Reconhecia-se a história das pessoas, seu esforço, e seu trabalho. Não ensinava-se uma sociedade inteira a pensar que pobreza e miséria eram reflexo de uma luta de classes e nós vivíamos muito mais próximos da ideia de que colhemos o que plantamos.
Alguns dias atrás escrevi sobre a responsabilidade de certos colegas na ideia de trazer os cubanos para o Brasil. Mostrei quem eram estas pessoas dentro das faculdades de medicina. Estabeleci o “perfil”, como gostam de dizer os psicólogos, deste tipo de gente e desmascarei a hipocrisia da “new left brasileira”. Hoje o recado é mais curto: abrindo uma destas coleções de anúncios comerciais, reportagens sobre o aquecimento global e apologia do homossexualismo que são os jornais brasileiros me deparei com o “comentário perfeito” sobre a vinda dos cubanos ao país – um sujeito aqui de Porto Alegre que é apresentado como “formador de opinião” foi o seu autor. Disse esse cidadão aquilo que considero uma “pérola” do lugar comum em termos de manifestação sobre o tema – … Mas tem de haver médicos em todos os locais, até nos indesejados pelos médicos brasileiros. Entonces, que vengan los cubanos! Porque o que importa é a Saúde.
Querem saber por que uma frase assim é capaz de fazer tanto sucesso? Explico: é por que quem a pronuncia afirma, aos brados e cheio de razão, que qualquer atendimento é melhor do que nenhum! Vocês, que gastaram seu tempo me lendo até aqui, têm dúvida de que isso é verdade? Faço uma proposta para resolver a questão: imaginem que estão às 2h da manhã de um dia de semana, esperando quase 12 horas para serem atendidos numa dessas espeluncas chamadas pronto-atendimentos e com um filho doente nos braços. Pergunto a cada um – vocês acham que seu filho, pai ou mãe (só para não citar vocês mesmos) ficariam conformados com “qualquer atendimento” ou buscariam aquilo que há de melhor na medicina local? Aí está a resposta – “qualquer atendimento” é melhor do que nada para os “outros”; jamais para nós e nossas famílias, né? Até onde eu sei, para nós mesmos e para aqueles que amamos, queremos sempre o melhor possível. Negar o mesmo às outras pessoas vai muito mais longe do que ser contra os médicos – é negar a própria natureza cristã da sociedade em que vivemos.
Jamais esqueçam disso quando lerem a escória da imprensa brasileira defendendo, ao lado dos seus patrões federais, a vinda dos médicos de Cuba. Não tenham também a tentação de cair na armadilha daqueles que afirmam – mas meu amigo, nem toda população pode ter o que há de melhor na Medicina a seu dispor. Esse tipo de gente não tem o compromisso legal de dizer onde está o “melhor” e quando esse “melhor” vai fazer a diferença. A ralé que defende a importação de médicos não tem o mínimo interesse na vida das pessoas doentes. É aos próprios doentes e aos médicos brasileiros que essa questão diz respeito. Imploro como médico formado há quase 20 anos: não fiquem contra nós! Vocês não precisam do “papai Lula” e da “mamãe Dilma” para cuidar do vocês quando ficarem “dodói”. Tudo isso é mentira e desespero político de gente que viu que, no seu delírio comunista, acabou com a estrutura hospitalar do país, que não pode mais esconder que as pessoas estão morrendo, e que nós médicos temos MEDO de trabalhar fora das grandes cidades.
Foi provavelmente um médico brasileiro quem primeiro olhou para vocês quando nasceram e quem, se Deus quiser, vai estar com vocês na hora da morte. Não aceitem a mentira do Governo e dos prefeitos mesmo que estejam esperando atendimento há anos. Trazendo os cubanos vocês NÃO VÃO ter seus problemas atendidos e a nossa medicina vai ser humilhada perante todo o resto do mundo..
Porto Alegre, 16 de maio de 2013.
Comentário do PoPa:
Este texto, escrito pelo Dr. Milton, mostra exatamente o que o PoPa pensa, mas que não tinha condições de escrever, por falta de conhecimento mais aprofundado do assunto. No entanto, qualquer pessoa de bom senso percebe que não faltam médicos para o Brasil, faltam condições de trabalho. Enquanto o governo faz concurso para professores, policiais, promotores, juízes e todos os profissionais ligados ao atendimento do público, a saúde é tratada de maneira diferente. Médicos não são concursados, não tem carreira no SUS e, nos interiores deste imenso país, não dispõem do mínimo para dar assistência às pessoas: equipamentos, auxiliares, laboratórios, hospitais... Aqui mesmo, na cidade do PoPa, que não é das menores, o sistema de saúde é caótico, com um PS que beira a insanidade, com hospítais carentes de tudo, menos de profissionais capacitados. Mas o que eles podem fazer sem as condições mínimas de trabalho?
Há alguns anos, o PoPa sofreu um acidente automobilístico sério e foi parar no PS. Mesmo com os contatos certos, com o conhecimento do próprio diretor do PS, ficou algumas horas esperando um prosaico raio X para ser liberado para um hospital. Se houvesse uma hemorragia interna...
Saúde é coisa séria e não deveria ser tratada de maneira fútil por políticos, sejam eles de que cor partidária forem. Aliás, saúde não deveria ser matéria a ser tratada por políticos.
Um comentário:
PoPa, bastante contundente o artigo do Dr.Milton e seu comentário e testemunho bastante oportuno.Este artigo do Dr.Milton precisa ser repassado.
Também fiquei sabendo que o governo diante da pressão contrária à vinda desses "médicos", suspendeu a contratação, mas também existem informações de que "médicos" cubanos já estão trabalhando no Brasil, informação essa que carece de confirmação.
Um abraço e boa semana.
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