A recente decisão da justiça gaúcha, de proibir (não apenas retirar) a presença de crucifixos nos tribunais, nos leva a acreditar que algo está errado em nossa sociedade. O PoPa é um ateu convicto, não acredita em Deus e, portanto, não acredita nos símbolos religiosos. No entanto, símbolos são símbolos. Refletem o valor que cada sociedade dá às suas tradições!
Imaginem, pois, que o estado seja realmente laico. Não poderia, então, subsidiar monumentos religiosos, como o Cristo Redentor. Está ele fixado em terreno público, com manutenção feita pela sociedade através do governo e isso tem exatamente o mesmo valor que um crucifixo em uma sala de tribunal.
Vamos privatizar o Cristo, então? Já que o estado é laico, não pode gastar com coisas religiosas. Oh, é apenas um símbolo? Que importa para esta patrulha ignorante que aí está?
No Caminho com Maiakovski,
de Eduardo Alves da Costa
"Na primeira noite Eles se aproximam E colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, Já não se escondem: Pisam as flores, Matam nosso cão, E não dizemos nada. Até que um dia O mais frágil deles Entra sozinho em nossa casa, Rouba-nos a lua e Conhecendo nosso medo, Arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada".
Claramente inspirado em Bertold Brecht, o autor fez este poema contra a ditadura militar na década de 60. Não imaginava que estes versos ficariam ainda mais atuais em relação aos que queriam outro tipo de ditadura.
O texto de Brecht seria o seguinte (o PoPa não tem certeza se está correto)
INTERTEXTO
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
E, antes de Brecht, Martin Nemöller escreveu a respeito do nazismo:
“E Não Sobrou Ninguém”
"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"
O princípio é bem simples e muito corriqueiro. À medida que vamos deixando eles tomarem espaços que não são deles, a decidirem o que não lhes cabe, a julgarem o que é melhor para todos, vamos perdendo a voz. Esta facilidade com que poucos conseguem dominar muitos, parece fazer parte da natureza humana. Cuba somente pode ser explicada assim, já que o regime de lá não promoveu o bem-estar social, não promovou o desenvolvimento, sequer consegue alimentar o próprio povo! E eles aceitam passivamente estas amarras em troca de quase nada.
O Brasil não está longe disso. Os poderosos, que sequer são de esquerda, tomam para si toda a riqueza deste País. Estagnaram nosso desenvolvimento, comprometeram o futuro do País com uma educação ideologizada, que não prepara nossos jovens para um mercado de trabalho real. Duas gerações já se foram, uma está a caminho. Se nada fizermos - e parece que nada faremos - teremos perdido décadas para o obscurantismo político.
foto: Antonio Lacerda - http://www.antoniolacerda.net