Hoje, neoecólogos acusam o eucalipto de ameaçar o bioma pampa, mas este bioma já foi atacado de muitas maneiras e suas características (não originais, mas as modificadas pelo gado jesuíta), já se alteraram definitivamente, com vários fatores:
Agricultura: pecuaristas não são agricultores, mas decidiram arrendar campos para agricultores de outras áreas para a produção de soja, principalmente. Ocorre que o solo é muito diferente da região de origem da maioria destes produtores e não respondeu da mesma maneira.Tecnologia inadequada, falta de compromisso com a preservação do solo (arrendatários, não proprietários), baixa produtividade e erosão, comprometeram grandes extensões de terras. Nas áreas sujeitas à arenificação (processo erroneamente chamado de desertificação), a situação ficou ainda mais grave.
Cultural: fora da região, criou-se uma idéia de que a região era tomada por grandes produtores e latifundiários, que não mereceriam estas terras. Isto despertou a cobiça política de alguns grupos que incentivam uma pseudo-reforma agrária na região, promovendo invasões e tirando a tranquilidade da população. Lembrem-se que estamos falando de uma região com um frágil equilíbrio, adquirido ao longo dos séculos, e que não se presta à agricultura intensiva, que manipule o solo anualmente.
Governamental: o governo federal, que definiu que esta região não poderia ter indústrias, que não poderia ter estrangeiros como proprietários, que não poderia interagir com os países vizinhos, que foi condenada à uma produção primária, agora pretende colocar agricultores despreparados, de outras regiões, para a promoção de sua politiqueira reforma agrária.
Técnica: ou deveria dizer, técnico-burocrática, que estabeleceu critérios de produtividade impossíveis de serem alcançados pela atividade da pecuária extensiva e praticamente impossível, mesmo em uma pecuária intensiva, usando parâmetros de áreas com condições edafo-climáticas totalmente diferentes, ainda que no mesmo estado. Desta maneira, os tais latifúndios poderiam ser retalhados e entregues a produtores não qualificados, que sobreviveriam de bolsas-família e cestas básicas até que resolvessem fazer algum tipo de agricultura e detonar o tal Bioma Pampa. Como não teriam o gado para pastejo (atividade que não é admitida como produtiva pelo Incra), os campos iriam modificar-se, gradativamente, não ao espectro original, mas a um outro que também ameaça o Pampa: o capim-anoni. Esta agressiva gramínia, introduzida no RS por "acidente" (e não no Pampa, complemente-se), espalha suas sementes por toda a região, através das correntes de vento e, não se tendo um cuidado extremo, tomará conta de todo o Pampa.
O PoPa poderia citar mais uma dúzia de ameaças, mas podemos ficar com estas principais. Para conter este tipo de ação, a reação encontrada foi o plantio de florestas para produção de celulose. Não foi uma ação governamental ou buscada pelos produtores locais. Estas empresas descobriram que aqui temos uma conjugação de fatores importantes para que esta atividade tenha sucesso: luz, água e solo.
E, depois de séculos de esquecimento, o Pampa pode tornar-se importante produtor de riquezas para o Brasil. EPA! Esta região já teve poder econômico e atrapalhou o Brasil de várias maneiras, sendo a principal delas, a Revolução Farroupilha que "peitou" o Império. É verdade que perdemos a guerra, não recebemos o título de "leal e valerosa", mas mostramos do que somos capazes...
Esta semana, o PoPa andou por São Gabriel e arredores. Viu que a ovinocultura de corte está tendo um impulso interessante e que as florestas estão sendo vistas com bons olhos. Até algum pseudo-ecólogo dizer que as ovelhas compactam o campo, que produzem gás metano e outras bobagens do gênero...
Imagem: Estação ferroviária de Pelotas, no início do século XIX. Os trilhos de trem, no Rio Grande do Sul, têm bitola estreita, ao contrário do restante do Brasil, porque os iluminados políticos e estrategistas do governo central tinham medo da invasão argentina... se invadissem, que ficassem pelo Pampa, porque aqui tinha quem corresse eles!
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