segunda-feira, 9 de junho de 2008

Generación Y - a confidencialidade nos correios cubanos

Do blog Generacion Y:

Desde que me mudei - já fazem quinze anos - a este enorme bloco estilo socialista, não recebi nenhuma carta pelo serviço regular. A razão não é que meus amigos tenham se esquecido de mim, ou que o email tenha derrotado as formas tradicionais de enviar uma carta; mas sim que os cubanos não confiam nos correios.

Tantos tramites, solicitações e pagamentos que poderiam realizar-se através do correio, estão ainda na etapa de irmos pessoalmente nos lugares e entrar em filas para sermos atendidos. Parece uma ilusão futurista, chegar o dia em que possamos receber a fatura da luz, da água ou do gás através do correio e nem o próprio Azimov poderia fazer crer que um pacote pode chegar - sem ter sido aberto - a suas mãos.

Na metade das suspeitas do vazio de minha caixa de correio, o Granma divulgou um artigo em 28 de maio, com o tema "inviolabilidade da correspondência", consagrado na Constituição da República. A jornalista que redigiu o texto assegura que "a Lei de Defesa Nacional estipula que, frente a situações excepcionais - guerra ou estado de guerra, mobilização geral e estado de emergência - alguns direitos e garantias constitucionais, entre eles a inviolabilidade da correspondência, podem ser regulados de maneira diferente".

Durante anos em Cuba, se fomentou a idéia de que ninguém poderia guardar segredos para o estado e a correspondência pessoal foi uma das expressões de privacidade mais vulneráveis. Tenho mil e um exemplos de cartas abertas, lidas e usadas contra seus destinatários, sem justificar-se esta ação pela gravidade de um conflito bélico. Uma amiga, que se correspondia com um colega exilado nos Estados Unidos, foi repreendida pelos seus chefes, quando um vizinho indiscreto interceptou uma das cartas e a remeteu, de imediato, à "segurança" do seu local de trabalho.

A volta à privacidade, a esta zona exclusiva onde um governo não pode entrar, porque pertence ao cidadão, demorará anos. Não somente necessitamos que a carta expedida chegue a tempo e sem danos, mas também ter a confirmação de que o que está escrito nela, é patrimônio exclusivo do remetente e do destinatário. Algum dia, a correspondência será como palavras ditas ao ouvido e as agências dos correios farão com que estes sussurros não possam ser "escutados" por outras pessoas.

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